Bolsonaro, ciente da divisão dentro das forças armadas acerca de um pretenso golpe e pressionado pelo protesto de parlamentares, do ministro do STF Celso de Melo, de juristas, da OAB, de jornalistas, artistas e de uma parcela significativa da opinião pública, recomendou a seus assessores que não comparecessem aos atos programados para 15 de março, os quais passou a negar que serão contra a Suprema Corte e o Congresso. Mas foi apenas um recuo estratégico. O capitão sentiu que não era o momento, mas não deixou nem deixará em hora alguma de perseguir obstinadamente uma forma de dar um golpe de Estado e fechar as instituições democráticas e governar despoticamente.
Quando lotou o Planalto de militares, pensei à primeira vista que tê-lo-ia feito com o fito de intimidar os seus opositores de dentro da política e da sociedade civil. Mas não. Aquilo era a preparação para um regime militar puro e castiço. Muito embora não tenha vislumbrado que não exerce nenhuma liderança importante dentro do Exércio, Marinha e Aeronáutica. Porém a tentativa vale para deixar-nos em alerta máximo. Não podemos nos descuidar nem por um segundo. Daqui pra diante todo cuidado será pouco. Não podemos dar-lhe os elementos de que necessita para implementar um regime de força dentro do País.
O primeiro passo é ficarmos distantes das manifestações do 15 de março, porque aqueles que se imiscuírem no meio dos manifestantes irão favorecer o governo em tudo: vão ser contabilizados na hora de eles divigulgarem o número de pessoas presentes aos protestos, além de, caso manifestem seu desagrado com o ato político, darem o combustível de que o desequilibrado governante precisa para gerar o clima e a turbulência que poderão vir a justificar, no futuro próximo, uma intervenção militar e um regime de exceção e de pura truculência, com desdobramentos que poderão ser iguais aos propiciados pelo golpe que jogou o Brasil numa ditadura entre 1964 e 1985.
Por ora Eduardo Bolsonaro está sendo, junto com outros pesselistas, levemente punido por atear lenha na fogueira ao dizer que ninguém lamentaria uma hecatombe no Congresso Nacional, mas todos ops indisciplinados irão ingressar no partido que o presidente está criando: "Aliança pelo Brasil", nome parecido (apesar de mais forte) com a legenda que a UDN (União Democrática Nacional) adotou após o famigerado golpe de 1º de abril de 1964: "Aliança Renovadora Nacional"(ARENA). Nessa data o presidente João Goulart foi oficial e definitivamente deposto, para em 2 de abril o Legislativo declarar a vacância da Presidência da República -- tudo bem diferente da versão que propala o presidente, que, absolutamente descompromissado com a verdade, insiste em dizer que a "revolução" ter-se-ia concluído em 31 de março e que Jango teria sido deposto pelo Congresso Nacional dois dias depois.
Então ficamos, todos navegantes aturdidos e indignados, avisados: de agora em diante, todo cuidado será pouco. E tudo de que precisamos é de uma união nacional em torno não de um partido ou de um nome, mas de uma projeto político que vise entre muitas outras coisas a resgatar a democracia, tão debilitada e tão ameaçada nos dias atuais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário