Nem se sabe ao certo se Dilma vai ser afastada e se Temer assumirá, e já sou um ferrenho opositor do possível futuro presidente e de todo o seu séquito. Lamentavelmente a ideia de uma nova eleição presidencial é, esta sim, uma intenção golpista do PT, que conta com a descabida e inacreditável projeção eleitoral de Lula caso novo sufrágio fosse convocado. Além disto, neste momento o Brasil carece demais de opções para a presidência. Ficaríamos com Aécio, que disse que o Brasil sob sua gestão seria tratado como empresa? Ou seja, o que não desse lucro seria descartado. O que seria então dos aposentados e pensionistas? Teriam seus direitos reduzidos ou suprimidos? Os hospitais públicos teriam suas portas cerradas em definitivo? Os salários dos trabalhadores ativos, públicos ou privados, tornar-se-iam meras ajudas de custo?
Na alternativa Marina Silva, volta-me à lembrança que esta, na campanha de 2014, em resposta aos ataques desleais de Dilma, disse que a presidente reeleita deveria cuidar de reformar de uma vez por todas a CLT. Seria então o tão pretendido (pelos empresários e políticos conservadores) fim do décimo terceiro salário e das férias remuneradas, do FGTS, da jornada máxima de trabalho? O que pretende essa senhora, que tem formação política progressista e defende uma medida reacionária?
E Lula? Salvador da pátria para os iludidos e os simplórios, mas um aventureiro oportunista que agregou em torno dos governos petistas uma legião de corruptos, que saquearam a nação e a deixaram num estado deplorável e talvez irremediável; que para manter seu partido no poder recorre ao periculoso expediente de jogar os chamados movimentos sociais contra a sociedade inteira, conclamando-os a fazer manifestações barulhentas e quase ameaçadoras, não poupando a população brasileira de seus discuros inflamados e pejados de ameaças veladas ou até mesmo bastante claras. O que nos traria esse mito de papelão senão uma versão brasileira do chavismo, com cerceio das liberdades dos cidadãos e da imprensa, com todas as mazelas e percalços e infortúnios típicos das ditaduras populistas?
E uma alternativa vinda do PSOL ou PSTU ? Como acreditar em agremiações que, vendendo uma imagem de progressistas, ante toda a gravidade e inviabilidade mais do que óbvia da permanência do PT no governo, teimaram em dizer "não" ou em omitir-se quanto ao encaminhamento do processo de "impeachment" de Dilma ao Senado? Como não bastasse o PT haver colocado em xeque a credibilidade de todas as forças rotuladas de esquerdas, partidos como PSOL e PSTU optaram por atirar no próprio pé com sua intransigência em oporem-se ao afastamento de Dilma. A opinião pública doravante verá todas essas correntes, se comparadas ao partido de Dilma e Lula, como farinha do mesmo saco. E francamente não sei se estará errando. Porque a postura desses partidos mais parece uma confissão estapafúrdia e incompreensível de uma culpa que não se tem, pelo fito único de lutar pela impunidade dos assemelhados.
Não vou falar no PSB, PC do B com Jandira Feghali e companhia, outros partidos igualmente oportunistas, porque não são alternativas a nada, e prova disto é que em 1986 os comunistas, com discursos veementes de Jandira, apoiaram Moreira Franco e o "companheiro" José Sarney.
O palpite que tenho é que, com a crise ética vivida pelo Brasil há alguns decênios - e acentuada assustadoramente nas gestões petistas - , levando em conta que toda crise ética faz emergir oportunistas que se dizem bastiões quase messiânicos da moralidade... Considerando os fatos, penso que crescerá no cenário político nacional algum falso moralista autoritário, que encontrará no eleitorado respaldo para o seu verbo e seus atos proibitivos a tudo quanto se possa chamar liberdade. Trará de volta a censura às artes, à música, ao teatro, aos meios de comunicação, implementará um regime duro, e o Brasil se verá preso numa armadilha montada por uma retórica inconsistente, mas que encontrará acolhida nas pessoas cansadas de tanta imoralidade no campo político.
Este papel poderia agora caber a Jair Bolsonaro, mas este caiu em desgraça ao cometer o erro capital de homenagear o atroz Brilhante Ustra em plena votação do encaminhamento do "impeachment". Assim, abriu espaço para algum levy fidélix ou coisa do gênero que se disponha no momento oportuno a topar a empreitada com chances bastante palpáveis de sucesso.