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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

OS DESAMADOS

ELA:

Meu rapaz é tão menino,
E eu passei da flor da idade;
Me rendi aos seus encantos,
Ele, ao saldo no meu banco.

Sou às vezes tão materna,
Ele, tão, mas tão meu filho,
Que me pede um dinheirão.
Eu lhe faço juras líricas, 
Ele fala em casamento,
Em seguro, garantias,
Com seus pés firmes no chão.

Eu lhe conto histórias lindas,
Ele conta os meus ativos.
Eu planejo mil viagens,
Ele, mil investimentos.

Eu me pego tão criança
Em sonhar coisas românticas,
Eu o encontro tão adulto, 
A falar em patrimônio.

Eu me nutro dos seus beijos,
Sou faminta do seu corpo,
Ele come a minha renda,
Tão voraz como um leão.

Eu me afundo em minhas dívidas,
A querê-lo eternamente,
Ele fica em suas dúvidas
De devermos prosseguir.

ELE:

Minha moça é tão bonita,
Tem a pele de veludo,
Somos unos, mas tão unos,
Que ela porta meus cartões.

Sou seu pai, mas tão seu pai,
Que ela vai até meus bolsos,
Retirando minhas notas,
Sai, me diz que volta logo
E só vem de manhã cedo,
Esgotada, embriagada,
Com aromas masculinos.

Eu lhe falo em vida eterna,
Ela lembra que é preciso
Que eu invista num jazigo
E lhe compre um bem imóvel.

Eu divago, meio tolo
Me sentindo principesco,
E ela diz que é necessário
Garantir o seu futuro.

Eu a faço inda mais bela,
Com vestidos, com ornatos
Que hoje fazem que me cheguem
Muitas cartas de cobrança.

Eu lhe conto meu desejo
De jamais nos separarmos,
Ela conta que no mundo
Nada pode ser eterno.

2013


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