Não era nenhum poço de virtudes,
Mas se desmanchou de amores por ele,
Que até nas pobres cobras conseguia dar rasteira ,
Que fazia que o maior dos maiores vigaristas,
Parecesse um santo ou um seminarista.
Ela era sedutora, era lasciva,
Mas só dava seu corpo ao felizardo
Que lhe tocasse a libido fortemente
Ou gerasse uma pecúnia ou vantagem parecida.
Já o escroque se mantinha das amantes,
Que era um grupo de mulheres vário e muito vasto:
Mocinhas, matronas, menores e balzaquianas,
Maduras, idosas e as não muito genuínas,
Tudo lhe sendo motivo pra se dar a traições.
Quando a moça se sabia traída ou desprezada,
Desabava a sentir-se a derradeira das mulheres
E se via morta em vida, se arrastava pela vida,
Se danava nos seus prantos e cervejas vagabundas
E pedia a todo santo que o tornasse um ser fiel.
Quando o homem lhe ligava madrugada,
Ela punha porta afora o amante eventual
E se dava ao seu "herói tão principesco"
Numa imensa e singular sofreguidão.
Ela tinha o nome dele num papel sob a calcinha,
Murumurava o nome dele nas noitinhas de silêncio
E acordava lhe avistando o rosto na memória,
E a miragem lhe era fonte de alegria e amor à vida.
Mas um dia alguém mandou o seu amado
Prestar contas dos pecados lá no mundo de São Pedro,
E ela então se viu tão louca e desolada,
Tão sem rumo e horizonte, tão sozinha e tão sem chão.
Hoje é membro muito assíduo numa igreja barulhenta
E casou com um sujeito mais velho trinta anos,
Pobre, troncho, fraco, moralista, autoritário,
E dedica-se ao mendigos e à palavra do Senhor.
2011
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