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sexta-feira, 3 de abril de 2020

A CRIATURA NÃO É O MAIOR DOS PROBLEMAS, JÁ O CRIADOR, SIM

Alguns analistas afirmam uma evidência que nos salta aos olhos: Bolsonaro já não governa.   Hora então de considerá-lo página virada na vida nacional e voltar a  atenção para aquele ou aqueles que agora detém(êm) o timão da Nação? Não sei.  A meu ver seria precoce. Até o presente momento o tresloucado capitão vem tentando criar um clima para reativar o setor produtivo com fraudes baratas e inócuas, tendo inclusive produzido a encenação de uma pseudoprofessora que clamava por golpe militar.  Vai que amanhã um desses ardis baratos cola.
Em 1989, achei que a aparição de Míriam Cordeiro para derrubar Lula no segundo turno da eleição presidencial seria um tiro que sairia pela culatra, por ser um recurso  sórdido e vil demais, típico de novelas de enredo piegas e de má qualidade.  Mas não foi: garantiu a Collor a eleição. Colou.  Não vai daqui nenhuma manifestação de apoio a Lula ou ao PT.  Nem vejo motivo para tanto.  Lembrei o fato só para ilustrar que em política tudo pode acontecer. 
Imagine se a próxima fraude for Bolsonaro "salvando uma criança de um prédio em chamas".  Ou "defendendo-se de um ataque de um monte de ninjas vermelhos com estampas de foice-e-martelo no peito e nas costas".  Imagine a comoção nacional e  a glorificação do presidente na primeira hipótese,  a revolta dos anticomunistas e os apelos aos militares para que intervenham na segunda.  Além disso, o ex-militar está se dando a reunir uma equipe de médicos para a pesquisa dos possíveis efeitos da clororquina contra o coronavírus -- e aí a gente tem de rezar fervorosamente pra que ele obtenha grande sucesso, ainda que sabendo que isso lhe valerá o resgate da popularidade e a muito provável reeleição em 2022.  Teremos de lutar muito, mas não podemos jamais torcer contra a vida e a favor da morte.
Todos os de bom-senso não acreditariam em atos tão heroicos do capitão (o mérito do suposto sucesso contra a Covid-19 seria dos médicos, e Bolsonaro só recorreu aos profissionais para atender aos interesses dos grupos econômicos  que defende),  mas este (Bolsonaro) conta com o apoio de duzentos empresários de extrema-direita, inclusos na legião de cinquenta e sete milhões de brasileiros que o elegeram.  São, além dos empresários que citei, esses eleitores donos de empresas, banqueiros,  financistas, policiais,  militares, paramilitares,   antipetistas ferrenhos e extremosos,  antissocialistas e anticomunistas radicais -- alguns por terem um patrimônio considerável, outros por ignorância mesmo  --  ricos e  inúmeros classe-média que se veem como ricos,  membros de classes mais desfavorecidas, porém desprovidos do menor conhecimento político ou histórico.  Somem-se e/ou encontrem-se entre os já mencionados os truculentos, os homofóbicos, os falsos moralistas, os misóginos, os sexistas, os racistas, os antidemocráticos, os neofascistas,  os completamente despidos de caráter, de lealdade e de outros verdadeiros atributos morais.
Com algumas defecções, esses grupos votarão em massa em  qualquer coisa que se apresente contra o PT,  contra o socialismo e a favor do neoliberalismo, quer por ideologia, interesses, picardia ou burrice mesmo. 
Em conclusão, analise-se bem e perceba-se:  Bolsonaro não é o maior problema.  O problema são cinquenta e sete milhões de eleitores. Os filhos e netos dos que votaram em Jânio Quadros em 1960, os eleitores e filhos dos que optaram por Collor em 1989, os que tentaram eleger Eneas em 1994,  aqueles que conduziram em 2018 o ex-militar ao Planalto.  Quem vier com um discurso moralistoide, do tipo prendo-e-arrebento, acabo-com-a-mamata, Deus-acima-de-tudo, em-nome-da-família,  dou-fim-à-corrupção... o que vier com esse discursinho barato leva a cadeira presidencial.  Quanto à corrupção, aliás, vale um comentário bastante oportuno: como é que uma população com tantos corruptos tem um discurso tão feroz contra a corrução?  Acho que é porque fica um querendo acabar com a corrupção do outro.
Ah! Ia-me esquecendo: como é que os brasileiros prezam tanto a família e gastam tanto tempo e dinheiro com amantes?

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