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sábado, 4 de abril de 2020

SE BOLSOANRO NÃO MAIS GOVERNA, HÁ O QUE SE POSSA COMEMORAR?

Se Bolsonaro não mais governa, como fica o panorama político do Brasil?  O governo migrará da extrema-direita para a centro-direita? De que adianta? É direita do mesmo jeito. E direita (extremista ou não) é reacionária, odiando o  menor arremedo de avanço sócio-econômico das classes menos favorecidas.  Então nada muda nos campos econômico e social.
No campo político, como se portarão os fiéis sectários do capitão?   Seguirão a equipe ora de fato governante com a mesma fé cega que devotavam ao seu combalido líder?  Ou irão se espalhar por diversas outras correntes reacionárias, autoritárias, odientas,  moralistas, preconceituosas, antiecológicas, protestantes-fundamentalistas,  até que um novo líder surja com as mesmas ideias do seu ídolo?  Não importa: eles continuam sendo cinquenta e sete milhões de brasileiros que mostrarão a cara de novo.  No futuro outros bolsonaros virão, e tenho certeza disso.
E a política ambiental? A grilagem continuará em passos largos por matas virgens e reservas indígenas e/ou ambientais?  Continuarão os massacres aos índios e aos animais selvagens?  Ricardo Salles continuará chamando o Greenpeace de "Greenpixe" e a insinuar que a entidade degrada nossos mares?  Ou o ministro do Meio Ambiente dará lugar a um outro com mais jeito de bom-moço, mas com  intentos e projetos iguais?Lembrem-se de que Mourão disse ainda em campanha que no seu tempo "não existia Ibama pra encher o saco".  D'onde deduzimos que nesta área as diretrizes continuarão as mesmíssimas.
E na Educação? Teremos um ministro que não responda a processos de "kafta" e conheça melhor a ortografia? Pode ser, mas os planos para a Pasta serão os mesmos.
Nada muda: os duzentos empresários de extrema-direita que ajudaram a eleger Bolsonaro, quando o fizeram, colocaram não um só homem, mas todo um sistema no poder.
Em suma, fica tudo como dantes no quartel D'Abrantes.  Só uma coisa muda: A Globo faz oposição a Bolsonaro, não à equipe que ora segura as rédeas do poder.  Ou seja, Paulo Guedes e cia. terão muito mais conforto pra se espalhar sem as emissoras globais em seus calcanhares. E, após contagem de quantos sobreviverão ou sobreviveremos ao coronavírus, toma reforma, reforma e mais reforma(!), todavia nenhuma delas em prol de quem vive de salários ou não exerce autoridade.
Nenhum progressista (e falo progressista, não socialista ou esquerdista, porque socialismo é só utopia, assim como o título da obra de Thomas More, que criou em seu imaginário uma ilha onde todos os habitantes viviam em condições igualitárias. E uma tentativa de estadização dos meios de produção, nos dias de hoje como sempre, só levaria a nação a distúrbios os mais severos,  a uma guerra fratricida e a um derramamento de sangue deplorável.  É melhor lutar pelo palpável, e o palpável é não tentar sair do infelizmente  inevitável capitalismo, mas dar-lhe uma feição mais humana, em que o governo seja obrigado a garantir às classes menos favorecidas direitos fundamentais como saúde, educação, segurança, habitação, benefícios  trabalhistas,  salários dignos do nome,  alimentação e  oportunidades de ascensão social.  
Para isso é preciso que a sociedade esteja unida em torno não de um nome, mas de um projeto sócio-político que vá além das retóricas de campanha.  Os homens têm de se curvar aos projetos e abnegar de suas ambições pessoais de poder ao invés de colocar os projetos num plano secundário em  relação a  si próprios.
O Brasil não é o país de Lula, Ciro Gomes ou quem quer que seja.  É o país que precisa elaborar um plano de governo que atenda aos anseios de toda a sociedade, não só do cume da pirâmide social. Precisa encontrar rumos fora do populismo de direita ou de esquerda. Não é difícil encontrar o caminho, mas o caminho começa pelo voto, e, ironicamente, após vinte anos de ditadura, é justamente o voto, quer para as casas legislativas como para as chefias do poder executivo, onde a população mais insiste em cometer erros capitais. 

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