Você crê na possibilidade de por aqui se estatizarem os meios de produção, a indústria de base, de bens de consumo duráveis, semiduráveis e não duráveis? Acha que um dia as propriedades rurais tornar-se-ão bens públicos e geridos e explorados por trabalhadores rurais, que dividirão entre si, em partes iguais, os fruto monetário do trabalho? Acredita que o mesmo aplicar-se-á à produção industrial? Imagina que, após uma equitativa distribuição de renda e estatização da economia, o Estado irá se dissolver e avançaremos assim do socialismo para o comunismo?
Vou viajar nessa quimera e imaginar que o povo eleja um presidente real e autenticamente socialista, e este apresente projetos de lei e de emendas à Constituição, ou mesmo convoque uma Constituinte e encaminhe ao Congresso suas propostas. O Legislativo as aprovaria? Tá bom! Vamos fantasiar que um dia o povo elegesse um presidente socialista de fato e um Congresso com o mesmo perfil político. Essa hipótese já é quase impossível: a última legislatura com um bom número de progressistas foi a de parlamentares eleitos em 1982, mas nem ela tinha número suficiente para mudar o sistema socioeconômico de capitalista pra socialista. Contudo continuemos a divagar e pensemos que em 2022 seja eleito um governante e um parlamento inteiramente sensíveis às necessidades e anseios dos mais infortunados. Como seria para colocar em prática todos os projetos que nos levassem ao socialismo? E a resistência e as pressões dos banqueiros, dos empresários, dos latifundiários, dos especuladores, dos proprietários dos veículos de comunicação, dos militares, vindas daqui do Brasil e dos países estrangeiros?
Enfrentá-los-ia? Ah, é? Quantos anos de guerra civil com interferência internacional, quantas mortes, quantos patrimônios destruídos, quanto sangue derramado, qual a certeza da vitória, quanto tempo pra reconstruir o devastado em caso de vitória? E a crise econômica decorrente da guerra? Quantos anos de crise? Dois, três, quatro decênios? E se, durante esse tempo, o caos socieconômico trouxesse de volta ao poder os ultrarreacionários, fosse pelo voto ou pela força?
O que quero preconizar é que paremos de sonhar, que deixemos as utopias e lutemos por melhores salários, uma legislação trabalhista mais justa, a valorização do trabalho, uma margem de lucro menor para os detentores dos meios de produção em decorrência da melhor remuneração dos trabalhadores, uma carga tributária bem menos generosa para os ricos, a desoneração da mão-de-obra, a redução da voracidade do Estado pelo dinheiro do pobre e da classe média, que se manifesta sob a forma de impostos pesados que nos são cobrados. O cumprimento por parte dos governos de dar à população saúde, educação, segurança, política habitacional real, viável e justa, ou seja, o Estado cumprir o papel que cabe ao Estado. Tudo isso não envolve a necessidade de se estatizar a economia, de se criar uma sociedade igualitária, de suprimir-se o poder público, mas são pontos que dão forma a um país progressista, com menos desigualdades e menos injustiça social.
Entretanto, se o que prego tem grande possibilidade de levantar contra nós as elites, as autoridades e todas as camadas privilegiadas, imagine então a ideia de um socialismo ou comunismo.
Sejamos realistas e razoáveis: comecemos aprendendo a votar sem cair em estelionatos eleitorais ou entupir as casas legislativas e chefias do Executivo de reacionários perversos, para a partir daí fazermos as mudanças necessárias e imprescindíveis para a criação de uma sociedade melhor e a transformação do Brasil num país viável para todas as classes sociais, não exclusivamente para a classe média alta e os ricos.
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