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sábado, 16 de julho de 2022

A ILHA

 Existe uma ilha no Atlântico,

Onde o mar verde arrebenta

E só se desnuda quem quer:

Ali o nudismo é careta.


Na ilha ninguém tem par --

Só se o amor bater forte.

A deusa que ali se louva

É a deusa libertinagem.


Pra saciar Madalena

É necessário uma fila.

Lista de amantes do Saulo

É da grossura da Bíblia.


Não é uma regra andar louco,

Só quem deseja que pira.

Não há sistema ou trabalho:

Lá só se vive de brisa.


Se vem chegando a tristeza,

A poesia afugenta.

Todos bem sabem que a lira

Não necessita ser triste.


Ilha de pura paixão,

Da juventude à velhice;

Jorge José ama seis,

Ana Maria ama vinte.


Ninguém concorre ou compete,

Todos se irmanam profundo.

O ódio por lá não existe,

Só puro amor é o que impera.


Lá não se mata nem caça,

Comendo-se aquilo que a terra

Dá, faz brotar e ser fruto:

Martírio é pecado mortal.


Ilha formada do nada,

Vinda de um sonho tão claro

De um poetinha sem regras,

Com alma tão libertária...

quinta-feira, 14 de julho de 2022

O SAGRADO E O SATÂNICO

  Hipócrita é o ser humano,

Nocivo é o ser humano,

Pois sempre louvando o sagrado,

Mas sempre amando o satânico


Satânico é gerar a pobreza,

Satânico é encorpar a miséria,

Matar ou ferir a carne

Ou alma de seres viventes.


Que existe de mais sagrado

Que uma existência condigna?

Que existe de mais sagrado

Que o bem-viver dos teus filhos?


Que existe de mais sagrado

Do que o momento em que chegas

E que te aninhas no quarto,

Entregue de todo à paz?


Que existe de mais sagrado

Do que o momento em que paras

Pr'ouvir cantigas bonitas

E te emprenhar de emoções?


Que existe de mais sagrado

Que entrar na mulher tão querida,

Sentir vibrar o seu corpo

E um deleite descomunal?



Que existe de mais sagrado

Que o colo, a mãe e a criança,

Do que a ternura nos olhos,

Do que transbordar em paixão?


2022

Revisto e modificado em 11.02.2023





quarta-feira, 13 de julho de 2022

A MORTE DA POESIA IV


Não há não mais beleza matutina,

Não há não mais vontade de cantar,

Não há moça bonita debruçada na janela,

Não há não mais nostalgia nem saudade,

Não há passado porque o ontem nas memórias se apagou.


Não há  mais rosas nem jardins, nem jasmineiros,

Não há não mais lugar pra minha lira.

As maritacas viraram pássaros urbanos,

Os gaviões tiveram, então, destino igual,

E os micos hoje são caçados como ratos,

Sem "habitat" e sem abrigo ou belas matas.



Não há não mais o pio "agoureiro" da coruja

A inseminar na mente insana o que é funesto;

Nem há não mais ruas descalças de singela poesia;

Não há não mais lugar pra minha lira,

Se até em meu peito os anseios são de argila,

Se o mundo encheu-se de edifícios suntuosos

Pra cultivar poder, miséria e capital,

Se massacrar, sobreviver é que é o mister,

Se as emoções submergiram no asfalto tão brutal.


2022

Revisto e modificado em 11.02.2023







sexta-feira, 1 de julho de 2022

A MORTE DA POESIA III

 Não há mais dança de roda ou ciranda,

Não há mais bela moça a sonhar a varanda,

Nem mais há casais contando as estrelas,

Seresteiro nenhum cantando ao luar.



Não há mais poesia no mundo,

Não há mais poesia em meu mundo:

Meus anseios são todos de ferro,

Concreto, cascalho, pvc, pó de pedra.



O tempo foi duro, cimentou-me as quimeras,

Cobriu de azulejos meus campos de lira,

Tornou sons de draga as mais belas cantigas,

Secou a nascente da minha emoção.