Primeiro voltemos a 1989 e lembremos que a campanha eleitoral do Collor não foi somente contra os servidores públicos, mas também contra os especuladores do sistema financeiro, esses mesmos "mercados" que os globais mencionam com fala emproada e mão no peito, como se rendessem reverências a um deus, um rei ou general. Na época o candidato referia-se a essa gente com frases como "eu vou acabar com esses vagabundos". E como vagabundos é que essa gente hoje tão venerada era vista naquela época.
São banqueiros que emprestam dinheiro a juros estratosféricos, jogadores da Bolsa de Valores, compradores de títulos do Governo, especuladores do dólar, malandros que operam com câmbio e com mais outras mamatas. Todos esses espertalhões têm um ponto em comum: NÃO PRODUZEM NEM UM PALITO E NÃO GERAM UM ÚNICO EMPREGO. Nem de um secretário para fazer aplicações eles precisam, porque já há os operadores da Bolsa e essas empresas de operações monetárias para fazê-lo. Poderia até um idiota dizer que, se existem essas citadas empresas e operadores, é porque os ociosos financistas dão vida a postos de trabalho, mas eu destacaria que tais ocupações são numericamente insignificantes e de uma importância nula no contexto social, porque os sanguessugas concentram nos bolsos todos os lucros obtidos com seus negócios e essa verba represada agrava a concentração de renda, além de nunca ser utilizada na implantação de indústrias, de comércio e de qualquer atividade que venha a gerar mais vagas de emprego e consequente desenvolvimento do país como um todo. Daí eu afirmar categoricamente que são parasitas e nocivos, pois nada produzem e ainda estagnam e atrofiam o setor produtivo nacional.
Quando a Eliane Cantanhêde, da Globo News, diz que o mercado especulativo tem também o seu João e a dona Maria, que têm um dinheirinho guardado e nele aplicam, mente deslavadamente, porque seu João e dona Maria não gostam de correr riscos numa seara que não conhecem e preferem deixar a grana guardada numa poupança ou investir na compra de um imóvel, que é seguro, em geral não desvaloriza e até pode render uma receita de aluguel. Um outro âncora que defende o segmento indolente com um furor leonino seria, como amplamente divulgado nas redes sociais, casado com uma sócia de uma intituição de investimentos em capital.
O mercado financeiro adquire superpoderes em decorrência do próprio capitalismo financeiro, surgido no século XX em escala mundial, e é lógico que é impossível contê-lo. Entretanto não há nenhum motivo para que ao mencioná-lo achemos que estamos falando de Deus. E esse mercado de finanças mostra-se ainda mais pernicioso quando, como no caso do Brasil, procura imiscuir-se na política partidária e destruir ou erguer líderes políticos, e exemplo disso é essa obstinação desses megadesocupados em destruir o governo Lula para trazer de volta ao Planalto alguém de perfil direitista bem sólido, não se importando se tratar-se-á de alguém de direita ou extrema-direita. Não importa pra eles quantos morram sob fome ou tortura: o que tem relevância é o aumento dos seus lucros. Isso me parece um precedente de altíssima periculosidade, pois a gande mídia é uma espécie de secretária e porta-voz desse setor improdutivo da economia e pode, da mesma forma como a Globo ataca ostensiva e sistematicamente o governo Lula, passar à opinião pública os recados subliminares dessas elites à população, e já em 2026 esvaziar ainda mais o Legislativo de parlamentares progressitas.
Todos sabemos que o golpe militar de 1964 no Brasil foi, como todos os golpes militares da América Latina, uma demanda das classes privilegiadas -- que se urinavam de medo de perder parte de suas regalias -- de pronto atendida por John Kennedy, que optou, por sugestão da Cia, a apoiar e incentivar as ditaduras ao invés de prestar apoio sócio-econômico às nações do continente, que vislumbravam alguns acenos das esferas comunistas. O golpe que se pretende, desta vez, é inteiramente midiático, sem necessidade de violência ou intervenção militar. Aponta-se apenas o que quer o mercado financeiro: juros mais altos, títulos da dívida pública com valorização imensa e galopante, pouco investimento do governo, menos consumo e menos emprego -- ou não foi o próprio Campos Netto, ex-presidente do BC, que disse que o pleno emprego pode acarretar inflacão por poder valorizar os salários?... Pois é: o mercado financeiro dá os ditames e os órgãos de imprensa separam o joio do trigo, apontando em seus noticiários de rádio, televisão, internet e impressos quais os candidatos às prefeituras, governos estaduais, federal e parlamentos são dissonantes quanto ao que estabelecem essa gente dos setores que só especulam.
Acho que ficar tentando combater o sistema financeiro é quixotesco, mas é papel dos políticos honrados e dos cidadãos esclarecidos e igualmente dignos esclarecer à parcela da população menos informada o que são os tais "mercados" e tudo o oque eles pretendem, e que não há nenhuma sacrilégio, mas aboluto acerto em contrariar os desígnios desses caras que não querem nada além de multiplicar suas fortunas em detrimento de quase totalidade da sociedade.