Enquanto debulhavam-se em lágrimas sobre o leito de um PSDB agonizante, os globais, aturdidos, ficavam a se perguntar que alternativa o Brasil (leia-se: a Globo) teria para fazer contraponto a Bolsonaro em 2022. Os comentários dos telejornalistas ignoravam as correntes progressistas, muito embora Cristiana Lobo e um de seus pares hajam concordado que o desgaste sofrido pelo PT acarreta-lhe muitas dificuldades. Fica notório que é para eles mister que surja um líder reacionário em condições de enfrentar o atual presidente nas próximas eleições presidenciais. E eu, que achava que o arrogante capitão já estivesse aniquilado, vi-me numa tremenda estupefação por conta de as últimas pesquisas apontarem ser ele um adversário difícil de bater.
Enquanto a Globo procura por um nome que una a direita, do outro lado PT e PDT se digladiam ferozmente, inteiramente indispostos a se prestarem apoio mútuo no pleito eleitoral. A dedução a que chego é que os militantes de ambos os partidos têm um único desejo e objetivo: que o seu venerado líder máximo, Ciro Gomes ou Lula, seja o próximo a sentar-se na cadeira presidencial, ou do contrário que o Brasil seja explodido, corroído de coronavírus, apodrecido de miséria, com corpos caindo pelo chão, quer em decorrência da fome, quer em virtude de doenças e outras mazelas.
São fundamentalistas como os sectários protestantes seguidores das igrejas fundadas por pastores desonestos e aventureiros; fundamentalistas como os bolsonaristas fanáticos, preocupados unicamente em ver seu seu "altíssimo" ídolo com o poder nas mãos.
Lamento dentro do atual contexto a pouca projeção da Rede e do PSOL, sobretudo o PSOL, partido pelo qual nutro profunda simpatia, do mesmo modo como sou admirador de Randolfe Rodrigues(Rede) e Alessandro Molon(PSB) e sua atuação respectivamente no Senado e na Câmara.
Entenda-se bem: a pequena performance do partidos de Randolfe e do PSOL, e a teimosia egoísta e irresponsável de PT e PDT manterão o sistema socioeconômico ultraconservador que vivemos nos dias de hoje, porque os reacionários concorrerão unidos. Embora os comentaristas da Globo finjam abrir os braços e olhar pra todos os lados à busca de um candidato com o perfil desejado pela Casa, é lógico e notório que há muito já optaram por Rodrigo Maia, a quem entrevistam quase todos os dias, colocando-o numa posição confortável de crítico do que é unanimemente mau e defensor do que é indiscutivelmente bom. Há muito elegeram o deputado uma espécie de Madre Teresa de Calcutá de calças, o guia do caminho do bem, o "guru" de que os sem-norte tanto carecem. Afortunada, a emissora ainda pode dar-se ao luxo de contar com Henrique Mandetta e Sérgio Moro juntos. Embora Mandetta tenha sido impecável na transparência e orientações acerca da pandemia, na sua gestão sobre o Ministério da Saúde, da mesma forma como Moro portou-se dignamente nos episódios concernentes à Polícia Federal, não podemos esquecer que ambos serviram Jair Bolsonaro e são cabeças muito distantes de estarem voltadas para a questão social.
Em síntese, com o insuficiente desempenho e divisão dos progressistas, o cenário que se desenha para o Brasil a partir de 2022 é simples e trágico: ou perde as mãos com outro reacionário, ou perde os braços com Bolsonaro.