O general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, garantiu ao ministro Luiz Fux, presidente do STF, que as forças armadas estão comprometidas com a democracia: agora tenho absoluta certeza que vai haver golpe. Imagine até que Paulo Sérgio estivesse falando a verdade. Se fosse o caso, Bolsonaro, que acena o tempo todo que não aceitará um resultado desfavorável das urnas, demitiria o comandante e daria início ao regime de exceção com outro comandante militar.
Por outro lado, se a única esperança que tínhamos de o resquício de democracia existente no Brasil ser preservado era o monitoramento das eleições por representantes dos países europeus, estes países agora já anunciaram, por zelo diplomático -- já que o Itamaraty se posicionou veementemente contra a observação de tais nações -- que não vão dar a mínima ao processo eleitoral deste ano de 2022. Ou seja, as coisas vão rolar frouxamente, e a União Europeia vai assistir comendo pipoca as tragédias que irão se dar por aqui. Os países da OTAN me impressionam pelo seu senso de diplomacia, porque vão deixar as coisas acontecerem no Brasil por respeito à nossa soberania, ou melhor, soberania do Jair Bolsonaro e seus asseclas, e, vale lembrar, a mesma Europa que repudia veemente as atrocidades e covardias da invasão de Putin à Ucrânia... essa mesma Europa associou-se a George W. Bush na igualmente deplorável, atroz e covarde invasão ao Iraque, quando o então presidente dos E.U.A. inventou que o país do Golfo Pérsico desenvolvia armas químicas e biológicas e que fazia-se mister atacá-lo com o nobre intento de preservar a integridade física o bem-estar da humanidade -- quando na verdade tinha por intento apossar-se dos poços de petróleo iraquianos. Como então o Bloco Europeu, tão cheio de ambiguidades e interesses escusos, iria se preocupar com o que ocorre aqui nestas terras longínquas e que não fere nenhum de seus interesses?
Se alguém disser que Alemanha e França, por exemplo, estão preocupadas com a devastação sem precedentes do meio-ambiente em nossa terra, é porque não entendeu que seus discursos ecológicos e preservacionistas são pura hipocrisia. A União Europeia só se traveste de defensora ambiental pra sair bonita na foto. Para os países do grupo, que o último yanomami seja incendiado vivo e que destruam o último pé de planta nas florestas do Brasil, porque o que eles querem mesmo é continuar obtendo nossos produtos agrícolas, nossas "commodities" por preços rasantes, e isso os donos de agronegócio cá nestas bandas têm-lhes proporcionado -- o que faz que percebamos o encontro harmônico dos interesses dos latifundiários daqui com os dos empresários e governantes europeus e americanos.
Para que se entenda melhor, Bolsonaro vai dar golpe não porque tem pra isso o apoio dos militares, mas dos agricultores e dos megaempresários -- e todos estão em perfeita consonância com as demandas comerciais dos países da Europa: a manutenção de tudo exatamente como está: preços baixos, abundância de produtos, ainda que com a incineração de todas as nossas matas e à custa da fome de nossa população, que passa não pode consumir o que para os europeus é muito barato e para nós é vendido a peso de ouro.
Aí a gente entende porque Bolsonaro fez tudo o que não podia e não caiu, da mesma forma como não cairá nunca: o golpe é uma demanda das nossas elites e da União Europeia, Bolsonaro é só o instrumento.