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terça-feira, 30 de agosto de 2022

MEU LITORAL

 Tinha o lago, o quiosque e o bom vento,

As luzes da cidade nas águas,

Em multicores tão belas!


Tinha vários passantes, casais,

Um pulsar de alegria tão pleno,

Que a mim simplesmente enlevava.


A vida era alegre qual festa

E retumbava em minh'alma

Tal qual tamborins e atabaques.


Não quero mais noites tristes

Nem mais a cidade deserta

Bem qual cemitério gigante.


Não quero não mais ir à roça,

Quero pisar as areias 

E abrir os braços pro mar;


Mirar o azul furioso

Em sua dança fremente

E o lindo dos meus  litorais.


ORAÇÕES DESCABIDAS

 Do que te valeu integrar

O coro adoidado da igreja,

Berrando qual bode louco

E como se Deus fora surdo?


Do que te valeu ver histéricos

Estrebuchando no palco,

No chão se arrastando qual verme,

E dar tua mão ao pastor?


Do que te valeu ter orado

Com olhos fechados em súplicas,

Enquanto améns proferias,

Glorificando o pastor.


Todo jejum que fizeste

Só te fez fraco e prostrou,

E o voto importante era outro:

Jamais o de castidade.


O brado a soltar era um não,

Jamais profusão de aleluias.

Gritasses pra ter um trabalho

Com justo valor ao suor...

Gritasses ao reinos da terra,

Jamais ao Reino dos Céus.










segunda-feira, 22 de agosto de 2022

VIDA. SONHO E BUSCA

 Sonhei quando a noite era infinda

E o sol vislumbrei no horizonte.

Chorei quando a sedd era muita

E os dias jamais floresciam.

Tremi quando vi que o tempo

Passou como fora um cometa,

Deixando-me a estrada tão curta.

Corri quando veio o enfado,

Saindo em busca de vida 

Caminho por dias tímidos,

Buscando por sóis e por luzes,

Por cores, enlevo e canções.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

O CREPÚSCULO

 Vejo ofuscar-se o céu no horizonte,
No distante horizonte, horizonte tão próximo.
Acho que anseio que venha o crepúsculo
E que anoiteça de uma vez por inteiro.

O cansaço das gentes, dos fatos e coisas,
Da engrenagem perversa, das almas tão podres,
Da sordidez humana, da crueldade dos homens,
Das pessoas tornando horrendo o que é belo,
Fétido o perfumoso, rude  o que é lírico.

Que venha a noite profunda:
Meus olhos incrédulos contemplam o crepúsculo:
Vontade de sair-lhe ao encontro.
Minh'alma exausta em torpor e disforme,
Diluída num chão de cimento,
Sem lira, poema ou resquício de vida.
Minh'alma não quer alçar nenhum voo,
É cinzenta como o chão duro,  poroso
Onde se encontra imóvel, prostrada.
Que venha o crepúsculo, a noite profunda,
Nada mais, nada além, nada mais.


VIVENTE MORTO

O bar, a música, pessoas, gargalhadas.
Passa o homem tristonho, macambúzio,
Qual robô, por entre as mesas álacres.
Lassidão, a dor, fio de lágrima,
O vazio torturante do abandono
E a dor tão perfurante da traição.


Cambaleia o infeliz, embriagado,
Quer sentar como um mendigo na calçada
E chorar entre soluços, convulsões.


Ah, mas que desejo mais soturno
De tombar ali, sem cor nem vida,
Ou de ao menos cantar melancolias,
De correr, sumir, morar no nada.


Ai, o bar é claro e iluminado
E é contudo sombrio e tão escuro.
Tanta gente, conversas pelas mesas
E um deserto e quietude sepulcral.


Toca um samba tão bonito, tão sonoro,
E o silêncio é de à alma torturar.
A alegria toma conta do ambiente,
Mas não toca jamais aquele homem,
Cuja alma se encontra tão distante,
Num lugar onde a vida não tem vez.








A MEL E RAPOSA

 Que minhas mãos de afago puro
Sobre suas cabecinhas inocentes
Se façam a magia a guardá-las,
Protegê-las dos males do mundo.
Meu olhar de amor contenha o feitiço
De lhes dar todo, todo bem do universo.
Meu amor imenso seja o deus poderoso
A fazer que seus dias sejam sempre felizes,
Paraíso merecido por todo animal.

VIVER POR VIVER

 Missão alguma senão aquelas que me dei
Por amor, por entrega e os princípios que nutro.
Nenhuma entidade me sussurra ou dá rumo.
 A solidão, grande, obesa, inflada, gigante,
Expande-se e ocupa cada palmo da casa.
Que solidão -- me pergunto e replico
--Se as cadelinhas dividem cada espaço comigo?
A solidão, me respondo, do espírito árido e boca trancada
A fazer-se masmorra, calabouço do verbo
Pejado dos ódios, de dor, desprezo e descrença.
Não busco n'alguma mulher uma cúmplice,
Se a alma incrédula não quer mais confiar.


Nenhuma missão além das cachorras.
Às vezes desejo deixar-me morrer,
Assim como eu fosse criatura de areia,
E o vento me viesse desfazer, diluir.
Deixar as cadelas a um herdeiro bondoso?
Por que morrer, entretanto?
Por fastio, desengano, por tédio?
Morrer ou varar noites brancas na esbórnia,
Velho etilista, tardio notívago,
Veterano boêmio entre mesas de bar?


Se  dúvidas chegam, não busco por norte:
Qual homem tem luz pra saber seu caminho?
Pois nós, vis humanos, jamais somos sábios,
Ou então não teríamos deploráveis deslizes.


Sem ser aclarado, vou pisando somente
Os chãos dos meus dias, vivendo os momentos,
Sem buscar pão da vida ou sentido qualquer
Pra vagar pelo mundo, existir tão somente.