Não é possível que as pessoas de espírito democrático não se tenham apercebido, mas é notório que existe um complô gravíssimo em andamento, e esse conluio tem ampla participação da mídia e principalmente das "Organizações Globo", que vêm sistematicamente colocando Lula na condição de vilão no embate do presidente com Roberto Campos Neto e na sua despreocupação em afagar os chamados "mercados".
Vamos primeiro tentar elucidar o que diz respeito à "Globo", que servirá de paradigma para que entendamos a questão do restante da mídia. A emissora é uma representante, uma preposta, uma advogada fiel, retórica, veemente, ardorosa e canina do mercado financeiro. O porquê disso é fácil entender se nos perguntarmos: quanto a emissora e seus proprietários e dirigentes investem em especulação no mercado financeiro? Quantos dos seus anunciantes jogam nessa ciranda de ganho fácil e rápido? Quantos megaespeculadores têm influência direta sobre o conglomerado midiático (Globo) e retirar-lhe-iam o apoio caso os globais não os defendessem como mães leoninas? Em suma: a "Globo" defende os seus anunciantes, seus donos e gestores e todos aqueles que nela investem de algum modo. Ficam entendidos, então, os motivos de comprar de peito aberto a briga dos chamados "mercados", que são um bando de indolentes que investem fortunas imensas em tudo o que não produz sequer um alfinete, e não geram um posto de trabalho que seja. Quer dizer, gerar empregos até que geram, mas unicamente para alguns operadores de suas jogadas no mundo das finanças, tão poucos a ponto de serem absolutamente irrelevantes no que concerne ao que podemos chamar mercado de trabalho.
Bolsonaro, não veiculando nada através da emissora, submeteu-a a um processo de estrangulamento financeiro que a induziu a fazer ferrenha oposição ao ex-presidente, apesar de achar Paulo Guedes, por sua desumanidade e obstinação em tirar tudo das classes não-abastadas para dar aos do topo da pirâmide, uma espécie de deus protetor dos ricos. Queria Bolsonaro fora e Paulo Guedes dentro.
Agora vamos analisar outras questões e entender o tamanho do bolsonarismo.
Bolsonaro é uma invenção da mídia, dos militares e dos megaempresários de todos os setores. Os militares queriam voltar à cabeça do poder e conseguiram: embora aparentemente fossem cegamente obedientes ao seu presidente-títere, na verdade obtiveram privilégios e regalias que só os milItares das ditaduras obtêm, além de não se incomodaram nem um pouquinho em desemprenhar o seu papel no teatrinho do quem-manda-quem-obedece. Os empresários queriam alguém que propiciasse-lhes ficar mais opulentos do que já eram e acabaram recebendo mais do que pediram a Deus: Bolsonaro é o pai dos ricos. A mídia entrou na história para conquistar os mesmos benefícios dos senhores de empresas e cumpriu sua voluntária função de grande arauto: "O Brasil está desequilibrado e só será feliz e estável se eleger Bolsonaro!" Deu no que deu: o capitão se elegeu, abençoou mídia, milicos e ricos, mas deixou a "Globo" e a "Folha" de fora.
Você pode agora perguntar: "Depois da política absolutamente contrária a vacinas, com tantas mortes por covid, com tantas queimadas em nossas matas, com garimpo e desmatamento ilegal e tanto martírio dos yanomâmis, as elites, a mídia e os militares se mostram tão saudosos da aberração que chamaram de presidente?" A resposta é simples: cada um quis e quer o seu, o seu poder e dinheiro lotando os bolsos, nada se importando com o que ou quem morre, sofre, fica cego, mutilado, retalhado, esfolado, martirizado, triturado, incinerado ou o que quer que seja. "Apoiam o pavoroso", você volta a indagar, "apesar do evidente perfil autoritário? " Ora, eu respondo, as elites sempre se beneficiaram de todas as ditaduras capitalistas do mundo (as ditaduras comunistas foram ditaduras, mas jamais comunistas). Os ricos são os protegidas de todos os governos autoritários, e o seu poder econômico suplanta fartamente o poder bélico dos fardados, que deles recebem ao invés de expedirem ordens, ou seja, subordinam-se aos opulentos. E tem mais: falar em direita democrática é o mesmo que admitir a existência de um leão vegano.
Voltando à questão central, o complô em andamento, a mídia vem fazendo um trabalho ostensivo de desgastar o governo Lula ante a opinião pública, em prol dos especuladores, de si própria e de magnatas que lhes dão ordens claras e objetivas. Diante de tal quadro, o que muito estranho é o fato de o PT não colocar a militância nas ruas, para empunhar cartazes e bradar palavras de ordem no intento de fazer contraponto a esse movimento que podemos chamar no mínimo de mesquinho.