Por que bebe Ana Celina,
Solitária em sua sala,
Tão tristonha, na penumbra,
Pranteando ao fim da tarde
Iluminada de verão?
Lembrará momentos plenos
Soterrados no passado,
Numa dor de quase luto,
Corroída de saudades,
Sem podê-los retomar?
Sofrerá por ter perdido
Um amor que nunca esqueça
Ou então porque este mundo
De tão rude, a tenha feito
Se sentir medrosa e só?
Que pretende Ana Celina,
Mergulhada no seu gim,
Num silêncio de deserto,
Num olhar vago e distante
A fitar somente o nada?
O que dói n'Ana Celina
Que se estampa no semblante
Do seu rosto delicado,
Tão suave, apessegado,
Tão bonito de mulher?
O que chora Ana Celina
Na clausura dessa dor
A torná-la débil, tênue,
Indefesa e pequenina,
Porcelana a se quebrar?
Proteger Ana Celina
Eu queria sem demora,
Se seus olhos permitissem,
Suas mãos se me estendessem
No abandono à solidão.
Quero ver Ana Celina
Deslizando pelos dias
Como fosse uma menina
Num sorriso luminoso,
A correr sobre patins.