Não exaltarei salafrários engomados e com títulos pomposos
Que detêm nas mãos sujas poder e autoridade imerecida.
Não farei reverências a senhores e doutores,
Sobretudo pela parca moral das pessoas
Para o exercício do mando, poder, senhoria.
Não farei louvações a calhordas de terno
Que decidem destino de gentes e povos sofridos,
Que fazem das vestes capa de suas sarnas malditas,
De sua podridão intrínseca, vindas da mente abjeta.
Não homenageio fraques, fardas, coroas e togas,
Porque conheço profundamente a pequenez dos homens.
Não farei vivas a abastados ridículos
No alto de suas fortunas como de pedestais.
Não farei canto a gente emproada, arrogante
Que se vê qual deidade de carne e de osso.
Não farei verso a enfeitados de ouro e de brilho,
A criaturas cheias de "cumpra-se" e "faça-se".
Não saudarei quepes, brasões e divisas.
Também não cultuarei mitos e grandiosos de plástico.
Ao contrário: desmantelo os mitos, dissolvo os heróis
Com o meu senso de realidade iniludível.
Os mitos arrotam, engasgam, são bem como nós;
Heróis, se algum há, quero ver e tocar.
Eu vejo a cara dos homens tal como é a cara dos homens.
Não me iludo ou fascino, imune a todos embustes.
Ninguém a meus olhos fará belo o que é feio,
Fará grande o que é mero, é reles, é vil.
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