Se a solução de nossos problemas passasse pelos economistas, seríamos uma grande potência econômica. Se não somos, é porque não são eles muito versados. Por isto, sinto-me bastante à vontade para falar de um assunto cujos especialistas não conseguem resolver.
Primeiro: não há por que se falar em direita, se não existe um contraponto, um ponto antagônico para que se estabeleça uma equiparação: em outras palavras, não há esquerda. Há quem detém e quem quer deter o poder. Na França pós-revolução, esquerda passou a designar os opositores ao governo revolucionário, que se sentavam ao lado esquerdo do parlamento. Hoje define os que dizem professar o socialismo, que por sua vez não é mais que uma utopia. Utopia porque nunca foi posto em prática em qualquer parte do mundo. É apenas uma doutrina longe de se alicerçar na realidade, assim como as doutrinas religiosas: catolicismo, protestantismo, kardecismo, etc...
O fato de não existir esquerda nem direita não exime todavia o capitalismo de toda a crueldade que encerra, que carrega dentro de si. Porque é perverso como a natureza humana, que demanda sempre leis que tentam conter sua inerente maldade. Noutras palavras, se o capitalismo é invevitável como a má-índole humana, e fazem-se leis para conter esta má-índole, é preciso que haja dispositivos que controlem os ímpetos cruéis da economia de mercado, liberalismo econômico ou que outra definição possa ter.
É preciso haver garantia de empregos, de salários dignos, de saúde, de educação, de habitação, de segurança, atenuação da concentração de renda e a inserção ao menos da maioria absoluta no contexto sócio-econômico. São pontos irrefutáveis a que só daria vida uma legislação que desonerasse a mão-de-obra e suprisse as carências decorrentes desta renúncia fiscal na taxação das grandes fortunas, grandes heranças e dos grandes lucros dos bancos. Far-se-ia mister que os empresários fossem compelidos a pagar melhores salários, pois, desonerada a força de trabalho, melhores condições teriam os empregadores de melhor remunerar seus funcionários.
A extinção do excesso de cargos comissionados no serviço público, aliado a um ostensivo combate à corrupção e a uma taxação considerável dos ricos somada ao menor investimento dos governos em autopropaganda, permitiria ao Estado construir hospitais e escolas com equipamentos e funcionários de qualidade e atendimento pleno; dar-lhe-ia condições de criar uma política habitacional concreta ao invés de populista e demagógica, isto a partir de um programa sério de financiamentos e construção de habitações populares - como havia nos anos 1960-1970, quando tínhamos conjuntos de habitação do IPASE, IAPI, COPEG, outros, todos bancados pelo Governo Federal, que era militar e estava muitíssimo longe de ter pensamento estatista ou socialista. Não vai daqui um elogio aos governos militares, mas o reconhecimento de que estes ao menos tinham consciência do papel social que deve ter primordialmente qualquer governo.
As melhorias na área de segurança podem ser obtidas através da redução dos gastos governamentais com os presidiários, exigindo-lhes que produzam para seu próprio sustento e manutenção dentro dos presídios, onde trabalhariam ao invés de se darem à ociosidade para bolarem e articularem atividades criminosas. Não se pode negar aqui que é preciso melhorar e muito, e urgentemente(!), as condições carcerárias dos presos, mas a empresa de torná-los produtivos, auxiliada pela arrecadação obtida dos milionários, bancaria facilmente melhores acomodações e menores riscos de violências para estes. A Constituição não permite que um preso seja compelido a trabalhar? Pois que se mude a Constituição(!), sempre modificada ou estuprada para atender aos interesses geralmente pessoais dos políticos e governantes.
Não defendo aqui a estatização da indústria, do comércio, da área produtiva, mas a educação, saúde e segurança, privadas ou públicas, são responsabilidades e obrigações irretorquíveis de todos os governantes, que deveriam responder criminalmente por não cumpri-las.
Se digo que o socialismo é uma utopia, não replico que esta minha tese possa igualmente ser vista como uma série de devaneios, porque jamais haverá um grupo de políticos com a coragem e o interesse de criar pesados impostos sobre a gigantesca arrecadação dos bancos e dos milionários, por conta justamente do poder de barganha e ascendência que têm estes sobre a classe política. Nunca serão supertributados exatamente por serem milionários. E porque os políticos existem ironicamente para defender os interesses do poder econômico. O sistema carcerário jamais será reformulado porque exige empenho e vontade de trabalhar e não resulta em votos, e político não quer trabalho nem aporrinhações senão em prol de benefícios próprios. Sem a redução da corrupção, a maior tributação das fortunas, heranças e imensuráveis ganhos e a extinção das funções comissionadas políticas, não haverá uma desoneração da mão-de-obra, e o emprego continuará escasso, e os salários, aviltados. Não haverá maior oferta de educação e saúde pelos mesmos motivos.
Tudo poderia melhorar, mas não estamos na Suécia: estamos no Brasil, terra de espertalhões, onde pra começar a corrupção é cultural e profundamente arraigada ao pensamento brasileiro, pois é herança dos donatários das capitanias hereditárias, escória da sociedade portuguesa que passou para seus filhos sua mentalidade torpe. Assim, tal mentalidade sórdida vem sendo passada de pai para filho ao longo de mais de quinhentos anos.
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