Quando me dei conta de que o socialismo é utopia, não por ser uma ideia que pudesse parecer descabida, mas por ter a oposição intransigente, agressiva, cruel e mortal das elites, que, para quem ainda não percebeu, são a força inabalável e invulnerável que manda no mundo, diante da qual qualquer tanque de guerra se retorce e vai pra sucata na hora... Quando me dei conta disso (que socialismo é utopia), deixei de cunhar as expressões esquerda e direita, e passei a definir as duas vertentes, cada uma dentro do seu perfil, como progressistas e reacionários ou conservadores. Assim, não me ative mais a doutrinas e comecei a preconizar (e preconizo até agora) que é bastante (e somente possível) que se instale um governo que dê à sociedade um verdadeiramente pleno acesso a um sistema de saúde digno do nome e que funcione com todas as engrenagens azeitadas para toda a população, além de políticas habitacional e educacional genuínas e acessíveis a todos, tudo somado a uma segurança impecável, a salários e direitos (hoje suprimidos) que atendam a todas as necessidades de todas as classes trabalhadoras, além do acesso de todos à boa alimentação e a medicações e tratamentos médicos.
Isso não é socialismo, não é exatamente uma doutrina, não tolhe o pensamento como estas, mas é o melhor que se poderia obter com muita luta e com muito afinco. "Não há como", diriam os reacionários, porém que se virem e reduzam seus lucros. Um empresário não deve lucrar o que lucra, em contrapartida o governo não pode onerá-lo tanto de impostos. Que o Tesouro vá matar sua fome de arrecadação com uma carga tributária real e menos caridosa sobre os ganhos pessoais dos ricos.
Meu tema, porém, não é no momento a defesa dos meus ideais de sociedade justa, mas um "mea culpa" exatamente por ter renegado terminologias como socialismo. Porque, depois da era Temer e refletindo sobre os dias atuais de bolsonarismo, entendi que não polarizar as correntes esquerda e direita, não defender ideologias e doutrinas progressistas dá aos conservadores, que são direitistas e/ou ultradireitistas, espaço para que se declarem não-ideólogos e assim pareçam criaturas de índole normal, tornando-os para o eleitorado e a sociedade pessoas politicamente aceitáveis como os que defendem o progresso social. O que é um embuste muito sórdido: os direitistas não são palatáveis: eles querem tudo para si e a manutenção da escravização daqueles que não detêm os meios de produção (as classes trabalhadoras), vistos como meras peças de trabalho -- exatamente como os infelizes reclusos pela escravatura.
Por isso tomei a decisão de voltar a utilizar expressões como esquerda e direita, para melhor qualificar as diferenças gritantes e extremas entre uma e outra linha de pensamento sócio-político-econômico. Não me aterei, é claro, a cartilhas doutrinárias e a dogmas, mas não me furtarei a reconhecer que, assim como esquerdistas, direitistas também obedecem a diretrizes dogmáticas pétreas, com a diferença que o dogmatismo dos reacionários produz ideias e efeitos perversos, satânicos, hediondos, vorazes, bestiais, pavorosos. Assim, é uma verdadeira heresia manter em nosso imaginário uma linha de pensamento perto da outra: são coisas absolutamente opostas, seus defensores são diferentes como a água e o vinho, e é mister que nunca, jamais deixemos de fazer a distinção entre esquerdistas e direitistas, porque o abandono ao pensamento ideológico de esquerda é um dos fatores responsáveis pelo fato de o Brasil ter caído nas mãos de Bolsonaro e estar vivendo dias infernais na atualidade.
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