Quando a noite for calada e for escura de amedrontar,
Quando o dia teimar, obstinado, em não chegar,
Quando o silêncio se apossar da casa: a sala, o quarto,
A cama, os cômados, a mesa, as janelas e o sofá,
E a solidão pousar sobre o seu corpo as mão geladas,
Não se lembre, por favor, por um minuto sequer de mim.
Quando quiser fugir da escuridão, da dor, do medo,
Mas nada salvo o abismo houver ante os seus olhos,
Não, não pense em mim, nem mesmo um único segundo,
Nem tente imaginar a claridade que até que poderia
Ter sido o nosso mundo, que é imaginário, que não nasceu.
Vá, encare a noite, o frio, o tédio, o abismo
E atire-se no mais profundo do mais profundo
Do mais profundo breu silente que se venha a apresentar...
Mas não pense, não, jamais em mim...
Pois sigo sempre e só será você lembrança vaga,
Tão desbotada, tão fugidia, sem relevância,
Que até seu nome, eu asseguro, esquecerei.