Se há uma coisa que não se pode negar sobre os políticos, essa coisa é a capacidade que estes têm de estar sempre em evidência, o que é indubitavelmente uma demonstração de competência quanto à habilidade de não se deixar esquecer pelo eleitorado, competência inquestionável da maioria absoluta dos que abraçam a carreira política. E o nosso bom Jonas, nascido com a política correndo nas veias, desde a sua primeira candidatura, jamais se deixou apagar da memória do público. Agora, se isso se deu por meios virtuosos ou viciosos, a questão é muito pouco relevante, pelo menos dentro do modo como a gente depreende que uma grande gama dos nossos legisladores e gestores públicos pensa.
Bom! Mas vamos deixar de enrolação e partir direto pro assunto! Não é que o nosso "herói", em sua triunfal carreira, se meteu em mais uma encrenca por causa da sua mania de sempre se dar bem sem se importar com os meios? Pois é. Nomeado ministro da Bajulação, uma das pastas prioritárias entre os trezentos ministérios do governo, se enfiou em um monte de falcatruas, até que a imprensa ficou sabendo e o tornou um prato e tanto para o momento.
Mas nosso homem não se deixou vencer facilmente. Convocou uma entrevista coletiva e enfrentou peito a peito os seus pretensos algozes.
- O que o senhor tem a dizer sobre as denúncias que vem enfrentando? - perguntou um dos repórteres.
- Denúncias? - fingiu não saber Jonas - Que denúncias? Pensei que estávamos aqui para falar sobre a importância do Ministério da Bajulação no cenário nacional.
- Mas o senhor não sabe?
- Não sei? Do que?
- O senhor é acusado de superfaturar os contratos de consultoria em bajulação com a Babaovos Relacionamentos Políticos e Empresarias, que por acaso vem a ser de sua propriedade.
- É mesmo?
- Ministro, o senhor não se lembra?
- Ah, sim! É de propriedade minha e daquele senhor... daquele senhor... Dá licença de eu ler!
- Ah! Perivaldo!
- Então, ministro? Como então o senhor pode negar?
- Eu negar?
- E não foi?
- Nada! Eu só esqueci.
- Mas ministro...?
- Eu sou muito esquecido... Quando eu era pequeno, meu pai já dizia: "Não vá esquecer de ir à escola, Joaquim..."
- Joaquim?
- Ah, é! Sou Jonas! Viu como eu sou esquecido?
- Mas o que o senhor diz sobre o superfaturamento?
-Vocês não acabaram de afirmar que eu sou proprietário da Babaovos?
- Sim.
- Pois, bem: esquecido de que sou ministro, incumbi-me eu mesmo de estabelecer os preços, lá na empresa, só que, por um engano lamentável, na hora de formalizar os valores, troquei-os pelos que pretendera propor ao Departamento de Puxassaquismo dos Estados Unidos.
- Sim, ministro, mas e as acusações de tráfico de influência, favorecimentos...
- Ah! Isso tudo é preconceito...
- Preconceito?
- É... preconceitos quanto aos calvos...
- Preconceito por calvície???
- Absurdo, não é, meus amigos?
- Mas, ministro?!
- Sim?
- Mas nem calvo o senhor é!
- Não, mas descobriram que meu pai era...
- Ministro, e o aumento do seu patrimônio, que decuplicou em três meses?
- Competência minha.
- Puxa! Mas como o senhor é competente!!!
- E Deus ainda me ajuda.
- Deus???
- Viu só? Você não tem fé: se tivesse, seria o entrevistado. Imagine-se rico e ministro.
- Mas, voltando à história do superfaturamento dos contratos: se o senhor se esqueceu de que era presidente da Babaovos Relacionamentos, por que aprovou os orçamentos no Ministério? Esqueceu-se de que era uma autoridade do governo?
- Não. Sabia que eu era autoridade, só que pensei que era do Departamento de Puxassaquismo americano.
- Ministro, o senhor sai com cada uma...!
- Ontem eu saí co'a Michelle... Você viu, né? Bonita, não?
- Não desconversa, ministro! Conta a história do desvio de verbas...
- Isso é história de gente invejosa, que quer me desestabilizar no governo. Sabe como é, não é? Tem gente que não gosta de ver ninguém bem...
- Poxa, mas todos invejam Vossa Excelência?
Jonas então resolveu exaltar-se:
- Epa! Peraí! Vamos parar com essa cultura de ficar derrubando ministro! Não vou sair do governo e pronto! Quero ficar no corpo do governo feito tatuagem...
- Mas, Excelência, a sua situação...
- Não adianta! Não saio! - e dirige-se a sua chefe - Eu te amo! - e agora volta-se aos repórteres: - Mas não saio!
- O senhor acha normal tantos ministros de Sua Excelência, a presidente, envolvidos em escândalos?
- Ah, é? E Sua Excelência fala alguma coisa?
- Não.
- Pois é! É porque ela, infelizmente, também é esquecida.
- Esquecida???? A presidente???
- Ou, então, elevada, sempre soube o quanto é alta a virtude de saber perdoar.
2011
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