Se, antes do processo da chamada globalização, o mercado de trabalho já induzia as pessoas a competições ferozes, após o advento do mencionado sistema, as coisas pioraram muito gravemente. Se outrora a força de trabalho de uma empresa girava em torno do empresário, com os colegas se digladiando por galgar postos mais altos, hoje o cenário se tornou bem mais perverso, simplesmente bestial, porque a minimização(ou quase extinção) de barreiras comerciais fez que as indústrias aumentassem a produção para o atendimento de uma demanda internacional, e, como concorrência exige menor preço e maior qualidade possíveis, os empresários adotaram a política de mão-de-obra barata e o mais qualificada possível. E, em consequência disto, há nestes dias uma contratação em massa de trabalhadores estrangeiros, como os coreanos, que trabalham por valores módicos, e, ainda dentro da mentalidade de trabalho bom e barato, os capitalistas, não satisfeitos em atuarem pela supressão de inúmeros direitos trabalhistas, resolveram ainda fazer os seus funcionários tirar leite das pedras, sacrificarem-se à exaustão, produzirem além da própria capacidade, abrindo os patrões verdadeiras competições dentro de suas verdadeiras arenas comerciais, onde, na área de vendas por exemplo, os vendedores são agrupados em facções que disputam entre si os melhores resultados de vendas a cada mês, e o desfecho disto é em geral o reconhecimento pelo patrão do bom desempenho dos vencedores e algumas retaliações aos perdedores, podendo atá haver perda do emprego.
Neste contexto, travam-se verdadeiras batalhas dentro das firmas, com todos almejando sobreviver ou projetar-se a qualquer custo, tentando permanecer o mais longe que possam da degola. O preço disto é uma deterioração ética e moral e uma desumanização sem precedentes das pessoas, porque são estas em seus postos de trabalho permanentes lutadoras por não serem atiradas de um abismo, e uma luta de vida ou morte requer todos os esforços possíveis e aceitáveis ou não pela autopreservação.
O grande beneficiário dentro de todo este cenário bizarro e horripilante é, sem dúvida nenhuma e como sempre, o empresariado, o capital, os grandes capitalistas, os mesmos que com sua ganância levam os países às guerras e geram incalculáveis concentrações de miséria por conta da má distribuição de renda. Fazem estes agora que mais zelosamente o planeta gire em torno de suas monstruosas pessoas. Sem contar que alimentam a má natureza do homem e infundem entre os humanos princípios demoníacos de ausência de solidariedade, de falta de compaixão, colocando a vitória acima da probidade, extirpando das criaturas qualquer traço de bondade.
Há entre os místicos aqueles que consideram que o Céu e o Inferno estão aqui mesmo, e eu penso que eles estão cobertos de razão, mas vejo-me um tanto quanto pessimista, porque, ao que parece, a ambição doentia dos poderosos há muito transformou o mundo unicamente em império do mal.
2011
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