Nos tempos mais remotos da história da humanidade, hordas de aventureiros invadiam territórios e subjugavam outros povos, promovendo carnificinas e uma série de outras crueldades. Alguns invasores, porém, fixavam-se nos territórios dominados e impunham-lhes rudimentos de regras severos e geralmente injustos, porque tais normas ( se assim podiam ser chamadas ) não visavam a distribuir justiça, ética, promover desenvolvimento ou fazer valer a moralidade, mas unicamente a conservar para os invasores o poder e as benesses do poder.
Hoje, passados mais de quarenta séculos da inauguração de tal praxe, o poder, sobretudo nos países de terceiro mundo, tem os mesmos vícios, os mesmos cacoetes, sem outro intuito além da manutenção dos privilégios nas mãos dos que o compõem ou a ele estão ligados. Em outras palavras, o Estado, que é parte integrante do poder que nos governa -- uma vez que boa parcela dos poderosos em qualquer país não ocupa cargo público -- não tem nenhum interesse em promover o bem-estar social. E por esse mesmo motivo precisaria ser perpétua e rigorosamente vigiado e policiado pelos que vivem em sua jurisdição e sob os seus preceitos. O Estado, complô das elites e meio de exercício de mando das classes dominantes, precisa ser constantemente pressionado e fiscalizado para que a sociedade possa avançar, para que o cidadão possa obter dele o mais que devido respeito e a real condição daquilo de que é chamado (cidadão). Entretanto, realizar tal empresa é algo extremamente difícil, quase impossível.
Seria preciso, antes de tudo, embasamento por parte do povo quanto às questões sociais e políticas, além do conhecimento do verdadeiro perfil do poder, o que já é dificultado pelas poucas chances de acesso à educação e à cultura que os governos oferecem -- do mesmo modo como Esparta implementava o laconismo como meio de dar poucos e parcos conhecimentos ao seu povo mais de vinte séculos atrás -- e pelo papel que a mídia exerce nos dias de hoje, sendo aliada dos governantes no trabalho de desinformar e enganar, confundindo a opinião pública e fabricando "verdades" e "mentiras" que sempre se afinam perfeitamente aos interesses dos poderosos. Ora, a mídia, composta por gente que troca favores com o poder, que vive à sombra deste( do qual faz parte), que outra postura poderia ter nesse contexto? É ela tão provida de recursos e argumentos, que hoje quase ou nunca o poder precisa recorrer à força para defender os interesses das castas que tem a função de privilegiar e proteger.
Só as sociedades mais avançadas conseguem fazer que o Estado exerça o papel que lhe cabe, porque tiveram acesso ao conhecimento de causa que não é dado aos povos de terceiro mundo, além de terem histórias muito diversas das vivenciadas pelas sociedades menos afortunadas -- em sua maioria havendo arrancado do poder tudo aquilo que este não lhes queria propiciar, nem sempre por meios exatamente pacíficos, e ainda assim alguns séculos atrás, quando os veículos de comunicação eram precários e não tinham a força de quarto poder (como até já foi intitulado um filme americano), o que favoreceu, entre outras coisas, o crescimento das ideias iluministas e o crescimento da não-aceitação aos desmandos dos poderosos.
Em suma, o poder não é justo ou ético, o poder é apenas o poder, sequioso das benesses que recebe de si próprio (com os recursos dos governados) e cioso em não se deixar mover de sua confortável posição. Dele nada é recebido, mas conquistado com reivindicação e luta alicerçada no imprescindível conhecimento a que aqui faço alusão. Todavia, e infelizmente, não vislumbro, para os países de terceiro mundo, muitas chances de se alcançar este conhecimento de causa que leva à luta e à conquista.
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