Vagabundo por repudiar trabalho
E também por ser um bardo dos chinfrins,
Já poeta porque inventa frases líricas,
Porque toca, sofre e canta ao violão.
Homenzinho insano, incomum, parece doido,
Já criou costume de parar no tempo
E também no espaço, pra fitar estrelas;
Divagando tanto, ousando fantasias
Que não vi neste mundo nenhum louco acalentar.
Comove-se co'a musa que adentra o bar,
Achega-se a ela e lhe diz galanteios
Com olhos luzentes e tão fascinados,
Que mais parece menino apaixonado.
Quando solitário, acomoda-se à mesa
E consome-se em porre pela morena
Que há bem pouco tempo o deixou
E a linda mulata que o já encantou.
Esse vagabundo, na rua lotada,
É apenas um ser sozinho e tão errante
Que para de repente e faz novamente
Que pare o tempo só pr'ele contemplar
O céu azulzinho do dia de sol.
Esse coisa-à-toa caminha perdido,
Soturno e sem rumo na rua deserta
Quando sua alma é sombria, escura, sem luz.
Despojado, informal, parece esses anjos
Desgarrados dos outros, que ficam bebendo
Nos bares alegres, em vez de ir pro Céu.
Incapaz de acatar, não sabe dar ordens.
Parece um cão solto deitado nas ruas:
Lírico e livre, o que mais ele lembra?
Talvez as cigarras, talvez borboleta, talvez os pardais...
II
(O POETA ENVELHECIDO)
Quem é o poeta que chega
qual vindo de algum devaneio,
saindo de um quarto de vila
com seu violão sob o braço?
Às plenas três horas da tarde,
a grave voz de ressaca,
dedilha uma música antiga
que é de fazer viajar.
Chegando a noite, o poeta,
a língua pesada de bêbado,
relata as histórias e amores
vividos em tempos de lira.
Alguns ouvintes se encantam,
uns outro se enchem de enfado,
mas cria-se um clima na noite
pejado de poesia.
Poeta de brancos cabelos,
de rosto cortado do tempo,
tão jovem porém nos anseios,
intenso em seu doce falar.
Às altas da noite o bar fecha:
os homens urinam nos becos,
e o triste poeta, já trôpego,
caminha pra ir descansar.
Um dia um coma profundo
ou uma cirrose ou infarto
fará que o poeta soturno
não saia do quarto de vez.
2013
qual vindo de algum devaneio,
saindo de um quarto de vila
com seu violão sob o braço?
Às plenas três horas da tarde,
a grave voz de ressaca,
dedilha uma música antiga
que é de fazer viajar.
Chegando a noite, o poeta,
a língua pesada de bêbado,
relata as histórias e amores
vividos em tempos de lira.
Alguns ouvintes se encantam,
uns outro se enchem de enfado,
mas cria-se um clima na noite
pejado de poesia.
Poeta de brancos cabelos,
de rosto cortado do tempo,
tão jovem porém nos anseios,
intenso em seu doce falar.
Às altas da noite o bar fecha:
os homens urinam nos becos,
e o triste poeta, já trôpego,
caminha pra ir descansar.
Um dia um coma profundo
ou uma cirrose ou infarto
fará que o poeta soturno
não saia do quarto de vez.
2013
III
(O BÊBADO ADORMECIDO)
Quem é esse traste que dorme,
Que fede a fumo e cachaça,
Ressona no quarto sombrio,
Fechado e desarrumado?
É o mesmo poeta que há pouco
Cantava o sorriso da moça,
Dizia que a noite é um negrume
Tão bom de se poetar.
Quem é esse velho imprestável
Que rosna o que não se entende,
Enquanto rola na cama,
Num sono agitado de ébrio?
É aquele poeta que disse
Que a tarde é momento divino
De a vida dançar de alegria
E o peito buscar emoções.
Agora é o langanho que dorme,
Que atrai desprezo e chacota
O homem que traz sempre sonhos,
Que sente profundo no peito
As dores e o belo do mundo.
2013
Ressona no quarto sombrio,
Fechado e desarrumado?
É o mesmo poeta que há pouco
Cantava o sorriso da moça,
Dizia que a noite é um negrume
Tão bom de se poetar.
Quem é esse velho imprestável
Que rosna o que não se entende,
Enquanto rola na cama,
Num sono agitado de ébrio?
É aquele poeta que disse
Que a tarde é momento divino
De a vida dançar de alegria
E o peito buscar emoções.
Agora é o langanho que dorme,
Que atrai desprezo e chacota
O homem que traz sempre sonhos,
Que sente profundo no peito
As dores e o belo do mundo.
2013
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