quinta-feira, 26 de outubro de 2023

A AMANTE

 Por que eu não iria embora,

Se cá nós trocamos injúrias,

Com ela é a mais pura luxúria,

E aqui nosso tédio é demais?


Não peça a mim que não vá,

Se a moça se encanta co'a Lua

E quer se banhar das estrelas

E, cálida, vem me beijar.


Por que eu ficaria sem ela,

Que aperta as mãos minhas nas suas,

Cantando uma linda cantiga,

E pisa nas águas do mar?


Tem tanta esperança nos olhos,

No rosto, um sorriso que é luz,

Na cama, delírios frenéticos,

No sono, uma paz sem igual.


Por que deixaria essa moça,

Se volto aos dezoito de idade,

Se sonho qual fosse um menino,

Se agora só entendo de amar?

domingo, 22 de outubro de 2023

NOSTALGIA III

 A juventude acesa, as mil emoções, mil anseios,

Os dias luminosos, o rock e os amores efêmeros 

A funda tristeza dos amores perdidos

E a mais indescritível alegria de viver.


Não tenho jamais a insana, descabida quimera

De desejar minha volta aos vinte de idade,

Mas quero a alacridade das cheias manhãs

E das tardes se abrindo na festa da vida,

Assim como flor desabrochada ao sol claro.

Não quero, não, as assombrações de minh'alma

Em seus gemidos apavorantes, agoureiros e tétricos.

Só busco fazer que a folia dos dias

Adentre inteirinho meu coração desbotado.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

AS CLASSES COMO SE VEEM E A REPÚBLICA DOS BOBALHÕES

A maneira como as classes sociais se veem no Brasil chega a ser risível: o pobre se vê como classe-média baixa, o classe-média baixa se vê como classe-média- intermediária, o classe-média- intermediária se vê como classe-média-alta, e todos odeiam pobres e defendem os ricos e os da alta classe média com unhas e dentes, de um modo veemente e canino, numa demonstração impressionante e espetacular de burrice. Já a classe média alta e os ricos, por sua vez, se dizem pobres ou classe-média-baixa e odeiam e desprezam todas as outras classes citadas anteriormente, além de sugá-las de um modo tão vampiresco que as torna a cada dia mais esquálidas e raquíticas.  Por isso o Brasil só progride no topo da pirâmide.

Uma vez o Gilmar, um infeliz que conheci na era Collor, que ou está hoje com 86 anos  ou sofrendo martírios terríveis na imensa ala dos imbecis lá do Inferno, me disse que eu tinha inveja dos ricos e deveria lutar para me tornar um deles em vez de atacá-los, e que tudo faria  para tornar-se ou à filha única membro da elite.  Duvido que tenha conseguido, se era mais pobre e mais burro do que eu.  Uma outra peculiaridade desse personagem esquisito é que ele idolatrava um primo nazifascista da esposa, sujeito que defendia que pobre devesse ser morto pra doar compulsoriamente os órgãos aos ricos. Garanto que nenhum abastado iria querer o cérebro do Gilmar. 

Ser anticollor e antidireita, naquela época, me valeu uma vez, numa mesa de bar, um cerco de reacionários que me colocaram na berlinda e foram às raias da ofensa pessoal e estavam dispostos a partir pra agressão física por minhas ideias progressistas. Saí dando-lhes as costas e nunca mais falei com aquela gente fétida.

Uma lição que tiro dessas questões é que as classes mais altas são felizes e não confessam, e as outras são infelizes e não sabem.

Tudo isso são coisas desse nosso "Brasil brasileiro", esse "mulato inzoneiro" que é predominantemente racista além de fascista.

Somos a República dos Bobalhões.