sábado, 20 de janeiro de 2024

ANA CELINA

 Por que bebe Ana Celina,

Solitária em sua sala,

Tão tristonha, na penumbra,

Pranteando ao fim da tarde

Iluminada de verão?


Lembrará momentos plenos

Soterrados no passado,

Numa dor de quase luto,

Corroída de saudades,

Sem podê-los retomar?


Sofrerá por ter perdido

Um amor que nunca esqueça

Ou então porque este mundo

De tão rude, a tenha feito

Se sentir medrosa e só?


Que pretende Ana Celina,

Mergulhada no seu gim,

Num silêncio de deserto,

Num olhar vago e distante

A fitar somente o nada?


O que dói n'Ana Celina

Que se estampa no semblante

Do seu rosto delicado,

Tão suave, apessegado,

Tão bonito de mulher?


O que chora Ana Celina

Na clausura dessa dor

A torná-la  débil, tênue,

Indefesa e pequenina,

Porcelana a se quebrar?


Proteger Ana Celina

Eu queria sem demora,

Se seus olhos permitissem,

Suas mãos se me estendessem

No abandono à solidão.


Quero ver Ana Celina

Deslizando pelos dias

Como fosse uma menina

Num sorriso luminoso,

A correr sobre patins.