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sábado, 29 de março de 2025

A TRISTEZA E A ALEGRIA

 A tristeza é prisão, é calabouço, é clausura, é escuridão no estreito túnel, é como amarras, é lassidão.

A alegria é claridade, é liberdade, é voar,  braços abertos para o mundo, e o regalo de sentir no rosto e peito a brisa fresca,  colorida e musical. 

UNICIDADE COM A NATUREZA

 Amo a Natureza e com ela me sinto uno como se nas plantas tocasse as pontas dos dedos e nas plantas sentisse elementos corporais que tenho em mim.  Amo os animais como se fora deles uma simples extensão.  Eu, animais, vegetais, um corpo único, uma só alma numa harmonia e comunhão absoluta.

Não sou, porém, uno com os homens que  destróem, que incendeiam e que matam plantas, bichos, porque esses satanases abomináveis se comprazem de um modo incompreensível em matar, queimar e destruir.  Sou feito da mesma matéria daqueles que respeitam a vida.  Dos bestiais destruidores me recuso teimosamente a ser irmão.

LAMBARI, UMA TELA DE CINEMA

 Se um dia eu voltar a Lambari, sentirei fundamente a ausência daqueles que em minha juventude comigo viajavam do Rio de Janeiro e, como alguns que lá moravam, já não vivem mais.  Sua lembrança irá me ferir sob a forma de tristeza e nostalgia, e essa tristeza será como um fantasma ubíquo a me surgir nos cantos todos do solar e nos umbrais que irei atravessar.  A casa aos meus olhos será lúgubre e sombria, com a umidade, o mofo e o escuro das masmorras e dos casarões abandonados.

Encontrarei toda a cidade transfigurada totalmente, sem a poesia que outrora me acolhia, e, entre as pessoas, não haverá ninguém que eu haja conhecido. Perceberei, então, que os laços que me uniram à cidade se terão evaporado como o éter a se desintegrar no ar.  Porque não será a Lambari que conheci e que tinha alguma inocência e um charmoso romantismo.  

Contemplarei as ruas sem encontrar entre nós nenhuma identidade, e caminharei a esmo não como estando por ali, mas qual alguém que anda a olhar uma tela de cinema, sem no cenário poder entrar jamais

quinta-feira, 27 de março de 2025

A CIDADE

 Vou-me embora pr'um lugar belo e distante

Que me inspire redondilhas, madrigais,

Onde as matas, veneradas como deusas,

Sejam templos majestosos, divinais.


Vou-me embora pr'um lugar onde os bichinhos,

Muito amados como os anjos que bem são,

Não vagueiem pelas ruas e sarjetas,

Vivam qual num merecido paraíso.


Vou-me embora pr'um lugar sem mendicância,

Onde a fome nem sequer tente chegar;

Onde amantes sejam livres das ganâncias

E não queiram mais que afeto e que se dar.


Onde brinquem, felizes as crianças, 

Onde, livres, me cantem rouxinóis;

De onde fique tão longínqua a hipocrisia,

Que não saiba lá chegar de modo algum.


Se o lugar não existir aqui na terra,

Vou a Marte ou Vênus para achá-lo.

Se, inda assim, não encontrar essa cidade,

Vou erguê-la em minha mente pra morar.

sábado, 22 de março de 2025

NUNCA MAIS


Você se lembra de quando nos entrelaçávamos as mãos, em cujas palmas ficávamos a sentir pulsar os nossos corações?  Tem a lembrança de que olhávamos a rua da janela e o mundo parecia constantemente dançar, numa festa contagiante e interminável?  

Tem na memória nossas salivas em nossas bocas, em nossos corpos já misturadas e os nossos líquidos, nossos odores e nossos fluxos amalgamados, sem que sequer conta nos déssemos de quais os cheiros e quais os fluidos eram os seus ou eram meus?  Você notava que na verdade  éramos um,  dois seres unos com  um só gosto, único aroma, uma só alma até talvez?

Hoje de você mais nada sei.  Teria à rudeza dos dias se entregado e se tornado bruta, cinzenta e incolor como o íntimo  da maioria dos humanos?  Terá se dado  inteiramente às ganâncias e mesquinhezes de um mundo cru, atroz  e pérfido, onde as emoções e a poesia não têm vez nem cabimento de modo algum?  Ou viverá um outro amor assim como aquele todo  feito de ternura, ardores,  lira e de entrega  de nós dois?

O que é de você nada mais sei e, pressuponho, não irei saber jamais.  A certeza que tenho  é somente a ríspida certeza do nunca mais.


quinta-feira, 20 de março de 2025

A ASSUSTADORA E REPULSIVA PROFUSÃO DE DIREITISTAS

 O bolsonarismo e o trumpismo, sinônimos de fascismo, decorrem, assim como na ideologia de centro-direita, de crueldade e maucaratismo nas camadas socialmente mais altas e, nas mais baixas, de tudo isso junto e somado à burrice e ignorância mais absoluta.  

A quantidade de direitistas nos EUA já está banalizada por sua própria tradição histórica, porque o cruel neoliberalismo está arraigado ao perfil da gritante maioria daquele povo ensinado a abominar a mais tímida modalidade de distribuição de renda desde a mais remota infância... mas no Brasil, por ser o país onde vivo, me indigna, causa repulsa e assusta.  Parece que nós, progressistas, coexistimos com uma profusão de demônios fétidos vindos dos mais imundos esgotos, todos ávidos de tirania, de caos social e de sangue, sonhando sádica e ardorosamente com o ressurgimento dos porões da ditadura com as mais lancinantes torturas e os gritos mais pejados de sofrimento e agonia que só a mais pavorosa perversidade pode produzir.


segunda-feira, 17 de março de 2025

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Hoje a grandiosa, linda, magnífica, brilhante e talentosa Elis Regina faria 80 anos.
Quanta saudade!

17 de março de 2025



 

sábado, 8 de março de 2025

NAS ANDANÇAS DO PODER: SEXTA PARTE: "A REUNIÃO"

 O deputado Breno Tomasini acordou com a insistência  toque do celular, esfregou aas mãos nos olhos,  olhou o identificador do aparelho e apressou-se em atender:

--Fala Marcondes! Como é que tão as coisas?

Do outro lado, num tom arrogante, o outro, um chefe miliciano de peso, devolveu:

--Você é quem deve saber.  Há dias que tá circulando na imprensa essa história de união das polícias no combate às organizações.  O que é que vai acontecer? Vamos acabar todos trancafiados?

--Calma, amigo!  Você viu que tem um bocado de gente contra:  governadores, congressistas, porque isso vai encher muito a bola do governo federal, e a última coisa que a gente quer é esse cara que tá aí reeleito... ou qualquer um de fora da direita, claro! Eu, de minha parte, vou fazer muito lobby contrário na Câmara.  

--Eu também vi isso no noticiário, mas esperei uma informação tua.  Essa sacanagem não pode passar.

--Passar!!!??? - gargalhou Bruno -- Pode crer que isso não vai ser nem votado!  Não vai sequer ser enviado a nenhuma comissão.

-- Um descalabro isso!!!! Afinal de contas, nós somos poder com grande capacidade de ação e importância, e temos de quer ser respeitados como tal.

--Lógico, amigo!  O governo não tem força no Congresso pra atingir a gente.

-- Isso é verdade...

--Agora tem uma coisa! -- o deputado agora fala de um modo mais austero -- Tenho pensado muito e visto que o momento é de diálogo.  Diálogo e união.  Tem que haver pelo menos uma trégua com o tráfico.

O miliciano fica em silêncio por alguns momentos e a seguir concorda:

--Já tem alguns grupos  nossos conversando com os caras. Não são todos, mas  acho que isso é válido, é construtivo...

--Inclusive amplia o leque de opções da organização...

--Pois é, pois é! Em alguns casos isso tem acontecido.  Tenho conversado com o Rogério, que fazia a segurança do Adriano Ferraz, que não se reelegeu e agora deixou ele fora do serviço público, mas o cara é ruim de conversa demais...

--Para de falar com ele, ora! Marcondes, passa a falar agora com o Edvaldo, que é o chefe dele  e é mais fácil de negociar.  O Rogério é cabeça-dura: nem sei por que o Edvaldo confia tanto nele: vai acabar se metendo numa fria por causa da incapacidade do outro.

--Boa ideia, Bruno!

--Olha, Marcondes!   O Edvaldo também é carne-de-pescoço.  É radical, meio teimoso, mas tem uma pessoa que tem que mediar a conversa entre vocês.

--Quem? -- quis saber Marcondes.

--O Mateus, o pastor, porque tem muito prestígio com o Edvaldo, já que a igreja dele deixa a grana do sujeito limpinha...  Tem um puta trânsito com ele!

--Isso é muito bom, parceiro.  Vou dar até um pulinho na igreja daqui a pouco. vou ter uma conversa com ele.  Como eu já disse, não tenho preconceito.  Se tem que negociar com os caras, a gente negocia.  Se alguns companheiros de outras áreas já fizeram acordo, por que meu grupo não?

--Isso aí, Marcondes!

 --O importante é a gente permanecer fortes.

E a reunião se deu uma semana depois, num clube que as partes fecharam exclusivamente para ela,  num cenário cheio de seguranças armados de ambos os lados, com a presença do pastor e de alguns líderes do tráfico e da milícia.  Rogério tentou fazer algumas objeções, mas Edvaldo não lhe deu ouvidos. 

--Essa união já acontece em algumas regiões, não todas, mas em algumas, mas eu acho que no momento é o melhor.

--A proposta do governo federal -- observou Marcondes -- pode nos deixar meio em xeque...

--Não! -- atalhou Edvaldo --  "Nós tem" parceiro em tudo que é canto, e acho difícil uma coisa dessa ir pra frente.  "Nós tem" que se unir é pra ficar mais forte, não por causa disso.

--Mas tem uma putada na política -- insistiu o miliciano -- que é osso duro de roer: é essa esquerda filha da puta!  Eles são capazes de fazer uma ´pressão fodida...

--Cá pra nós, "cumpádi".  Tu sabe que essa esquerda tá sem força nenhuma, tem pouca gente dela na política no geral e não é ameaça pra ninguém.

--Olhando por aí você tem razão -- aceitou o chefe da milícia.

Edvaldo ergueu e levantou a mão direita:

--"Nós sela" aqui um acordo de cooperação e lealdade, e ninguém invade o território de ninguém, e trabalhamos juntos ali, ombro a ombro, todos pelo bem-estar de todos.

Várias mãos se juntaram naquele gesto simbólico, e o pastor Mateus postou  a sua sobre elas e vociferou:

--Com a bênção de Jesus Cristo, nosso Senhor!

--Amém!!! -- secundaram as outras vozes.


domingo, 23 de fevereiro de 2025

A MÚSICA E A RUA

 A rua, essa gente

que segue, que passa

pr'um lado, outro lado,

meus fones de ouvido: 

que música linda!


A gente, esse tráfego,

os carros, o asfalto, 

as motos ruidosas

quebrando a canção

tão doce de ouvir.


Alguém que pragueja

o que nem imagino;

mas nem me interesso:

que notas sublimes!

Nasceram no Céu?


A gente passando,

os carros parando

diante dos olhos

cansados de carros,

cansados de gente.


As cores mais várias,

pessoas aos montes,

sorrisos, conversas...

Cantiga tão linda

que quase chorei.