terça-feira, 1 de setembro de 2015

E AGORA, MEU POEMA?

Após ler comentários negativos ( de uma só pessoa) sobre alguns dos meus poemas, como por exemplo "Noite Deserta" http://baraodamata.blogspot.com.br/2010/03/noite-deserta.html  , que recebeu a observação de que as imagens poéticas com ninfas e Dionísio estariam muito batidas (eu só os coloquei porque realmente quis rebuscar a poesia), "Se a Tristeza Vier"http://baraodamata.blogspot.com.br/search?q=SE+A+TRISTEZA+VIER, que me valeu a crítica de que o  trabalho, por estar no modo imperativo, mais parecia uma pregação, crítica esta ilustrada com a afirmativa de que Boudelaire jamais faria aquilo ou então logicamente não seria Boudelaire, e por último, por criar "Outra Quase Cantiga de Roda"http://baraodamata.blogspot.com.br/search?q=OUTRA+QUASE+CANTIGA+DE+RODA ,  a arrogante espinafrada de  que os meus poemas  mais parecem uma colcha de retalhos, feita com trechos de músicas antigas, sem no entanto ter a poesia das respectivas letras... Depois de ouvir (ler) isto tudo, preciso dar alguma resposta às cacetadas recebidas:



E agora, meu poema, que te faço?
Abandono imagens belas e metáforas?
Só faltou que cruelmente te chamassem
Casa pobre com adornos ordinários.
Que fazer agora, então, meu verso?
Deixo para trás os sóis, luares e as estrelas,
O silêncio tão cantor das madrugadas,
As varandas, as penumbras e os quintais?
Que será, meu canto, dize a mim, dos seresteiros,
Inspirados violeiros das esquinas?
Que será, se até Dioníso, deus  de todas as orgias,
E as ninfas foram expulsas das letras sobre esbórnias?
Ai, meu Deus(!), e agora como vou fazer a poesia
Sem ardores, sem morenas de peitos bem durinhos,
Sem o samba, sem um louco, um desregrado ou vagabundo?
E agora, me falais vós que me ledes, se é belo ou se  não é
Um poema ornamentado de jardins e sóis dourados.
Como doravante vou falar das paixões que me inquietam
Sem o céu cheio de prata e sem a brisa das manhãs?
Não xingueis a mim se porventura parecerem
Os meus versos financeiros, eletrônicos, criminais, policiais.
E agora, meu poema, que te faço, que te faço?
Ah, meu poema(!), insistente e teimoso erro repetido
Ao longo destes  anos e decênios tão compridos,  
Transformado em coisa vil a demandar saco de lixo.

Por que não imitei ou me alinhei a Baudelaire ou Mallarmé?
Por que diabo, meu poema, não fui ser parnasiano?
Ou então por que não fui concretista ou mesmo seiscentista
Ou qualquer coisa diferente do poeta que me fiz?
Meu poema, meu poema(!), dize a mim, enfim, poema,
O que faço, o que faço(!), o que faço ora de ti?

II

Há, poema, quem se queixe mesmo até
Das poéticas licenças de que abuso:
São licenças obtidas na prefeitura literária
(Mas que tirada infame em verso tão sem melodia! Arre!)

2012

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