domingo, 12 de setembro de 2021

O TEMPO E A PANDEMIA


Tinha os meus dezoito, a juventude,

Tinha a minha tristeza descabida

E as  calçadas  da Penha tão festiva,

Das acesas noites de verão.

Tinha as moças em vestidos diminutos,

Espalhando beleza pelas ruas

E os bares destilando carnavais.


Tinha os meus cinquenta e a viveza,

A poesia irresistível do pecado,

O Severina de Laranjeiras em festa,

Um desejo de viver tão permanente,

Um soltar-me pelas luzes da cidade.


Os sessenta adentrei alegremente,

Fincando os pés na alegria de Araruama,

Degustando um poema  ensolarado,

E  me enchi de sentimentos coloridos:

Tempo doce de viver, beber e amar.


Mas chegou de repente a pandemia,

E busquei um quieto lugar em Minas,

E, bem antes da entrada nos setenta,

Eu me vi como na casa dos noventa,

Prisioneiro de um tédio melancólico,

E vegeto num pavor inominável

Pois é tempo de clausura, dor e morte.

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