quarta-feira, 28 de agosto de 2024

CLAMOR INÚTIL

 Parai, humanos, e vede atentamente

A sede de quem ama e canta, olhos fechados,

E solfeja entre palavras adoçadas de emoções

E se alumbra fundamente ante o amado ser

Ou mesmo à simples vista do rubor de um arrebol.


Parai os fuzis e tanques, granadas, bombardeiros

E fazei dos mísseis nada, nada mais do que sucatas.

Contende essas indústrias emprenhadas de fumaça e morte,

Parai o morticínio dos animais, que tendes como vossos.


Cessai, homens, a guerra, a morte e o que destrói,

E ouvi, imóveis, tudo o que vos canta, toca e diz poema.

Mirai, imundos, a natureza que estais por dizimar

E a infinda lindeza de uma garça a se aninhar.


Deixai de lado essa ganância horripilante

A parir a guerra, o ódio e a mais vil corrupção.

Quedai-vos ante a bailarina flutuando no teatro

E orai aos anjos do lirismo, embora não creiais.


Tocai na seda das canções, dos violões e das cascatas

E me enganai e me iludi, mas nunca permitais

Meu despertar desta utopia insana e descabida

De que seríeis capazes de ouvir clamores como os meus.


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