Um homem, tentando pagar uma promessa (pela sobrevivência de seu burro a uma hemorragia), carrega uma cruz com o fito de colocá-la no altar de uma igreja, empreitada na qual não conta com o consentimento do padre da paróquia, e isso gera publicidade à sua história, fazendo que a imprensa, ávida de matérias e de sensacionalismo, o entreviste e, por seu relato de ter doado parte de suas terras a outros lavradores, sem arrependimento, declare-o favorável à reforma agrária, ao mesmo tempo em que um gigolô e ex-policial com alcunha de Bonitão (Sill Farney), interessado em sua mulher(Glória Menezes), "delata-o" aos ex-colegas da polícia como comunista arrastando o objeto como forma de protesto. Zé do Burro (Leonardo Villar), o protagonista de "O Pagador de Promessa", peça anedótica de profunda dramaticidade de Dias Gomes, sofre gravíssimas consequências decorrentes da calúnia do gigolô e da mídia despudorada.
Outro grande momento da genial obra do autor é "O Bem-Amado", em que Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), um político sem caráter nem projeto da imaginária cidade de Sucupira, na Bahia, candidata-se a prefeito, prometendo aos habitantes do município um cemitério próprio (já que enterravam seus mortos na cidade vizinha, em longas caminhadas com seus defuntos na rede). Vencendo a eleição, constrói o sepulcrário, mas começa a partir daí a sofrer um imenso desgaste por ter gasto uma verba significativa numa construção que mostrou-se inútil, porque não conseguia inaugurar o cemitério de modo algum, já que ninguém morria após a conclusão da obra.
Numa outra diferente ocasião da vasta e genial criação de Dias Gomes, um novo drama anedótico conta a história de "Roque Santeiro", personagem-título de uma telenovela (José Wilker), um jovem que confeccionava estátuas de santos e, num certa oportunidade de periculosidade em Asa Branca, também cidade fictícia da Bahia, uma quadrilha domina e ameaça a cidade, e Roque, ao fazer-se portador do resgate que Sinhozinho Malta (Lima Duarte), pecuarista e chefe político da região, pagaria a Navalhada (Osvaldo Loureiro) e seus comparsas, acaba por cair em tentação e se apropria do dinheiro e mais, leva consigo também o ostensório da igreja e foge. Um corpo encontrado na beira de um rio é identificado equivocadamente como o cadáver de Roque, que acharam que teria enfrentado o bando até ser assassinado, e posteriormente virado santo, operando uma infinidade de milagres.
A partir daí, a cidade passa a desenvolver-se, com a implantação de comércio, indústria, hospedagens, boate e outros elementos de progresso, por conta da frequente ida de romarias e fiéis a Asa Branca para pagamento de promessas e louvores ao suposto santo. O município passou a ter a sua economia quase totalmente sustentada pelo turismo e pela fé das pessoas no mito.
Tudo ficaria na mais perfeita paz se um dia Roque não resolvesse voltar à cidade para se redimir dos seus erros. É quando tudo se complica, porque revelar a verdade a Asa Branca a faria desmoronar, porque significaria o fim da ocorrência de romeiros, da venda e fabricação de velas e artigos religiosos, do comércio, da indústria e de toda a atividade econômica naquela terra, com consequente falta de investimento, recessão, desemprego e miséria.
Em todas as três comédias dramáticas está o brilhantismo de Dias Gomes, que em seu mais grandioso talento sabia usar realismo e surrealismo, humor e tragédia, com personagens intrinsecamente ligados à realidade brasileira, como Sinhozinho Malta, tão bem-interpretado por Lima Duarte, que fazia que em certas horas eu sentisse raiva e desprezo pelo latifundiário para logo depois me cutucar e lembrar de que era só a interpretação primorosa de Lima Duarte. A referência ao ator, aliás, é bastante oportuna, porque Lima como Wilker, Gracindo, Cláudio Cavalcante e outros pareciam incorporar com absoluto perfeccionismo os seus papéis por extremo respeito, dedicação e uma quase veneração ao trabalho esplêndido e magistral de Dias Gomes.