segunda-feira, 30 de novembro de 2020

QUEM SERÁ O ESPIÃO DO BOLSONARO NOS ESTADOS UNIDOS?


Bolsonaro afirmou, categoricamente, "saber" de suas "fontes" ter havido fraude nas eleição presidencial americana deste novembro.  Quando soube de suas declarações, fiquei a especular: quem seriam as mencionadas "fontes"?  Logicamente é gente barra-pesada, com o dom da investigação e da espionagem nas veias.  Uma equipe de homens como James Bond, o agente 007 britânico.  

Mas logo descartei Bond: ele não deixaria de trabalhar exclusivamente para a inteligência inglesa.  Minha imaginação foi passeando, voando, cogitando, e achei: não tenho dúvidas! É uma equipe da pesada mesmo!  Liderada pelo inspetor Clouseau, sempre circunspecto, atendo o tempo todo a uma possibilidade de ataque do mordomo Kato, que o mantém sempre alerta, preparado e em forma.  Indubitavelmente o Chapolim Colorado faz parte do grupo: "Não contavam com minha astúcia!" -- deve ter dito ao nosso excelso líder em mensagem criptografada, as antenas vibrando na velocidade de asas de beija-flor. 

Maxwell Smart, o Agente 86,  não poderia ficar de fora de uma missão de tamanha envergadura.  Imagino: Bolsonaro procura um canto discreto, saca do bolso o celular, no meio de um dos centros de recontagem o sapato de Max toca, este disfarça e sai pulando num só pé até um banheiro:

--Chefe, sou eu! 

--Eu sei! -- responde o capitão, ansioso, depois indaga: -- E aê? Teve mesmo fraude, não é?

--Claro, chefe!  A 99 me ajudou na checagem.  Tinha um cara na contagem igualzinho ao Michael Jackson, e todo mundo sabe que o Michael Jackson morreu:  a eleição foi fraude pura!!!

Só que Max fala tão alto, que todos os presentes na recontagem de votos arregalam os olhos e levantam a cabeça, quedados.

--Fala baixo! -- cochicha Bolsonaro do outro lado.

É quando a  Agente 99 invade o banheiro masculino e puxa o namorado da cabine, correndo com ele, que permanece falando com o sapato no ouvido e pulando com um dos pés descalço.

O inspetor Clouseau é mais refinado, discreto, sutil, sagaz: cofia os bigodes fininhos, pega seu celular e liga pro nosso sumo comandante com sua voz discreta e seu sotaque francês:

--Presidént, tudo resolvido: encontrrê a frralda do crriminoso, um bebê de sês meses, numa lata de lixo...

--Puta que pariu,  Clouseau! Já cansei de repetir pra você! Não procuro fralda, porra!!! É fraude, cacete, que tô procurando! Por favor, lê o dicionário Português-Francês e vê se me entende melhor! -- berra o mandatário enquanto brande um braço com raiva.

Não se deu no entanto por vencido nosso comandante  mor: juntou as peças, as palavras de Chapolim, a conclusão de Maxwell Smart e o achado de Clouseau, começou  a fazer cogitações e levantar hipótes e, por fim, com o brilho que lhe é peculiar, vociferou: "eureka!!!"  

O general Heleno, que entretinha-se em  brincar com soldadinhos de chumbo, correu até ele, agitado: 

--Que foi?! Que foi?!  Descobriu como apovar a volta do AI-5?  -- Ah!! -- seguiu, eufórico-- Agora esse pessoal vai ver...

--Pô, Heleno! Não é nada disso! É que teve fraude na eleição presidencial americana! Isso é sacanagem! -- Virou-se pr'um lado, pro outro: --  Vou ligar pro Trump agora e avisar!

--Mas ele já tá dizendo...

--Não importa! Vou ligar assim mesmo.

E ligou.

--Hellooo! I'm Susan, the wonderful bitch of the 

Brooklin. -- atendeu uma voz de mulher.

Bolsonaro arregalou os olhos, surpreso e desanimado:

--Porra, Heleno...! Ele me deu o número errado, caiu no telefone de uma prostituta...

--Mas é claro! -- Heleno levantou os ombros e abriu os braços -- Ele mal te conhece... nem lembra  que você existe...

-- Porra, fala sério! Ele só pode ter-se enganado. O homem gosta de mim pra cacete! Até me deu um boné da campanha dele. Devia estar emocionado, isso sim(!), quando me deu o número do telefone.  

--Será que você anotou errado?

--Eu, não! Quem anotou foi o Eduardo. Só se ele traduziu algum algarismo errado.  Porra, eu falava pra ele prestar atenção às aulas de inglês!

O general nao sabia mais o que dizer, Bolsonaro, num estalo de decisão, saiu  andando, apressado:

--Tem nada, não! Vou sair pra votar agora e botar a boca no mundo!

Daí ter dito a grande asneira que disse.

Imaginar e brincar como faço não é pecado.  Mas pecado político capital comete o homem que 57 milhões de brasileiros escolheram pra presidir a República, pessoas que, neste momento, acreditando ou não, devem  estar a repetir cada letra das graves acusações feitas ao sistema eleitoral americano.   Seus seguidores devem estar sorvendo com deleite as palavras do deus de carne e osso que criaram à imagem e semelhança de si próprios, de uma forma inconsequente e inteiramente despreocupada com a possibilidade de retaliações diplomáticas e econômicas que podem colocar o Brasil numa situação extremamente incômoda e praticamente impossível de ser solucionada.

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