Não vai daqui uma homenagem, porque sou simplesmente avesso a homenagens. Até porque sempre é praxe que elas venham impregnadas da repulsiva hipocrisia. Prefiro exaltar de modo eufórico o talento e a sublimidade, e acho que Arthur Moreira Lima reunia as duas coisas.
Não me caberia fazer-lhe um poema, porque pareceria (e seria) oportunismo, e ele já era poesia simplesmente.
Sempre tive uma simpatia especial por Moreira Lima, talvez ampliada pelo fato de sabê-lo progressista num Brasil desprezivelmente retrógrado e fascistoide. Nutria por ele um certo carinho apesar de não conhecê-lo pessoalmente. Coloco-o no rol das pessoas que acho grandiosas, pela sua arte e sua índole.
O tempo passou e Arthur envelheceu e morreu, e a morte na velhice, embora doa nos mais próximos, não deixa espaço para inconformismos -- a não ser pela própria existência da morte e pela própria cruel natureza das coisas. Mas Arthur Moreira Lima foi longevo e morreu, e eu, embora não esteja sofrendo, me sinto tocado, comovido, com uma leve ponta de tristeza. A morte libertou-o do sofrimento do câncer, e isso consola quem fica. Mas é uma pena a gente perder alguém como ele.