Você se lembra de quando nos entrelaçávamos as mãos, em cujas palmas ficávamos a sentir pulsar os nossos corações? Tem a lembrança de que olhávamos a rua da janela e o mundo parecia constantemente dançar, numa festa contagiante e interminável?
Tem na memória nossas salivas em nossas bocas, em nossos corpos já misturadas e os nossos líquidos, nossos odores e nossos fluxos amalgamados, sem que sequer conta nos déssemos de quais os cheiros e quais os fluidos eram os seus ou eram meus? Você notava que na verdade éramos um, dois seres unos com um só gosto, único aroma, uma só alma até talvez?
Hoje de você mais nada sei. Teria à rudeza dos dias se entregado e se tornado bruta, cinzenta e incolor como o íntimo da maioria dos humanos? Terá se dado inteiramente às ganâncias e mesquinhezes de um mundo cru, atroz e pérfido, onde as emoções e a poesia não têm vez nem cabimento de modo algum? Ou viverá um outro amor assim como aquele todo feito de ternura, ardores, lira e de entrega de nós dois?
O que é de você nada mais sei e, pressuponho, não irei saber jamais. A certeza que tenho é somente a ríspida certeza do nunca mais.
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