Vou-me embora pr'um lugar belo e distante
Que me inspire redondilhas, madrigais,
Onde as matas, veneradas como deusas,
Sejam templos majestosos, divinais.
Vou-me embora pr'um lugar onde os bichinhos,
Muito amados como os anjos que bem são,
Não vagueiem pelas ruas e sarjetas,
Vivam qual num merecido paraíso.
Vou-me embora pr'um lugar sem mendicância,
Onde a fome nem sequer tente chegar;
Onde amantes sejam livres das ganâncias
E não queiram mais que afeto e que se dar.
Onde brinquem, felizes as crianças,
Onde, soltos, me cantem rouxinóis;
De onde fique tão longínqua a hipocrisia,
Que não saiba lá chegar de modo algum.
Se o lugar não existir aqui na terra,
Vou a Marte ou Vênus para achá-lo.
Se, inda assim, não encontrar essa cidade,
Vou erguê-la em minha mente pra morar.
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