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sábado, 8 de março de 2025

NAS ANDANÇAS DO PODER: SEXTA PARTE: "A REUNIÃO"

 O deputado Breno Tomasini acordou com a insistência  toque do celular, esfregou aas mãos nos olhos,  olhou o identificador do aparelho e apressou-se em atender:

--Fala Marcondes! Como é que tão as coisas?

Do outro lado, num tom arrogante, o outro, um chefe miliciano de peso, devolveu:

--Você é quem deve saber.  Há dias que tá circulando na imprensa essa história de união das polícias no combate às organizações.  O que é que vai acontecer? Vamos acabar todos trancafiados?

--Calma, amigo!  Você viu que tem um bocado de gente contra:  governadores, congressistas, porque isso vai encher muito a bola do governo federal, e a última coisa que a gente quer é esse cara que tá aí reeleito... ou qualquer um de fora da direita, claro! Eu, de minha parte, vou fazer muito lobby contrário na Câmara.  

--Eu também vi isso no noticiário, mas esperei uma informação tua.  Essa sacanagem não pode passar.

--Passar!!!??? - gargalhou Bruno -- Pode crer que isso não vai ser nem votado!  Não vai sequer ser enviado a nenhuma comissão.

-- Um descalabro isso!!!! Afinal de contas, nós somos poder com grande capacidade de ação e importância, e temos de quer ser respeitados como tal.

--Lógico, amigo!  O governo não tem força no Congresso pra atingir a gente.

-- Isso é verdade...

--Agora tem uma coisa! -- o deputado agora fala de um modo mais austero -- Tenho pensado muito e visto que o momento é de diálogo.  Diálogo e união.  Tem que haver pelo menos uma trégua com o tráfico.

O miliciano fica em silêncio por alguns momentos e a seguir concorda:

--Já tem alguns grupos  nossos conversando com os caras. Não são todos, mas  acho que isso é válido, é construtivo...

--Inclusive amplia o leque de opções da organização...

--Pois é, pois é! Em alguns casos isso tem acontecido.  Tenho conversado com o Rogério, que fazia a segurança do Adriano Ferraz, que não se reelegeu e agora deixou ele fora do serviço público, mas o cara é ruim de conversa demais...

--Para de falar com ele, ora! Marcondes, passa a falar agora com o Edvaldo, que é o chefe dele  e é mais fácil de negociar.  O Rogério é cabeça-dura: nem sei por que o Edvaldo confia tanto nele: vai acabar se metendo numa fria por causa da incapacidade do outro.

--Boa ideia, Bruno!

--Olha, Marcondes!   O Edvaldo também é carne-de-pescoço.  É radical, meio teimoso, mas tem uma pessoa que tem que mediar a conversa entre vocês.

--Quem? -- quis saber Marcondes.

--O Mateus, o pastor, porque tem muito prestígio com o Edvaldo, já que a igreja dele deixa a grana do sujeito limpinha...  Tem um puta trânsito com ele!

--Isso é muito bom, parceiro.  Vou dar até um pulinho na igreja daqui a pouco. vou ter uma conversa com ele.  Como eu já disse, não tenho preconceito.  Se tem que negociar com os caras, a gente negocia.  Se alguns companheiros de outras áreas já fizeram acordo, por que meu grupo não?

--Isso aí, Marcondes!

 --O importante é a gente permanecer fortes.

E a reunião se deu uma semana depois, num clube que as partes fecharam exclusivamente para ela,  num cenário cheio de seguranças armados de ambos os lados, com a presença do pastor e de alguns líderes do tráfico e da milícia.  Rogério tentou fazer algumas objeções, mas Edvaldo não lhe deu ouvidos. 

--Essa união já acontece em algumas regiões, não todas, mas em algumas, mas eu acho que no momento é o melhor.

--A proposta do governo federal -- observou Marcondes -- pode nos deixar meio em xeque...

--Não! -- atalhou Edvaldo --  "Nós tem" parceiro em tudo que é canto, e acho difícil uma coisa dessa ir pra frente.  "Nós tem" que se unir é pra ficar mais forte, não por causa disso.

--Mas tem uma putada na política -- insistiu o miliciano -- que é osso duro de roer: é essa esquerda filha da puta!  Eles são capazes de fazer uma ´pressão fodida...

--Cá pra nós, "cumpádi".  Tu sabe que essa esquerda tá sem força nenhuma, tem pouca gente dela na política no geral e não é ameaça pra ninguém.

--Olhando por aí você tem razão -- aceitou o chefe da milícia.

Edvaldo ergueu e levantou a mão direita:

--"Nós sela" aqui um acordo de cooperação e lealdade, e ninguém invade o território de ninguém, e trabalhamos juntos ali, ombro a ombro, todos pelo bem-estar de todos.

Várias mãos se juntaram naquele gesto simbólico, e o pastor Mateus postou  a sua sobre elas e vociferou:

--Com a bênção de Jesus Cristo, nosso Senhor!

--Amém!!! -- secundaram as outras vozes.


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