sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

FUNDO DESENCANTO Nº 2

Se um dia tu parares, refletires longamente,
te lembrares de que, das mulheres que tiveste, muitas não te amaram
e algumas nem sequer te foram fiéis...
que entre todas só uma ou raríssimas te deram amor e te foram leais,
que tu mesmo igualmente te limitaste a usar a maioria das mesmas e a não ser exatamente
[ um exemplo de amor ou virtude...


Se notares que nenhuma força sobrenatural há que livre e acuda os seres dos acidentes e
[ infortúnios da vida e da maldade humana...
Se notares, ainda, que nenhum ser supremo te irá reparar as injustiças sofridas, quer hoje,
[ amanhã ou num suposto juízo final,
e que nenhum juízo final castigará os maus e recompensará os bons para fazer valer o teu
[ parco senso de justiça...
Se, nesta própria questão, olhares para o teu próprio umbigo e reconheceres que também
[ não és um modelo de justiça ou bondade...
Então tu te acharás um verme entre tantos vermes
e te sentirás tão só, esmorecido e perdido...
e terás da vida um desencanto e desalento profundo...
e então tudo a teus olhos será tão baço, cinzento, deserto,
será tão sem cores, sem brilho ou canção,
que amarás do fundo d’alma a certeza de um dia morreres.

1999

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