segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O PENSAMENTO POLÍTICO E OS MODISMOS

Sou do tempo em que tecnocrata era uma expressão de cunho pejorativo. E não podia deixar de ser, se levarmos em conta que, como registra o dicionário "Aurélio", tecnocrata é "partidário da tecnocracia" ou "político, administrador ou funcionário que procura soluções técnicas e/ou racionais, desprezando os aspectos humanos e sociais do problema". Todo tecnocrata, nos anos oitenta e início dos noventa, era malquisto, ironizado, tachado de burro, chcoteado, ridicularizado e tido como perverso, insensível e despreparado para o exercício do poder - justamente por sua negligência e inconsciência quanto às questões sociais.
A partir da era Collor, curta mas nefasta para as classes trabalhadoras, já se passa a ver os tecnocratas e conservadores com olhos mais complacentes, e há uma cruel transformação de mentalidade, porque o nosso "herói" achava que as leis do mercado estavam acima do bem e do mal, e sapecava neoliberalismo pra cima do Brasil, e a mídia, adesista como sempre, é claro que comprou a idéia e enfiou por nossa goela a baixo, e a classe média, no seu impecável papel de avestruz e papagaio, engoliu tudo aquilo com um prazer impressionante, repetindo pelos quatro cantos do Brasil que aquele negócio de liberalismo econômico sem freios e sem preocupação com o social era bom por demais e vai por aí adiante. Embora o protagonista de tal período tenha visto o seu governo morrer prematuramente, deixou como legado um pensamento neoliberal pavoroso. Os segmentos políticos reacionários ganharam corpo, pois havia um clamor muito grande do poder econômico por idéias que defendessem seus interesses. Assim, a doutrina econômica professada pelo ex-presidente ficou, no tempo de Itamar Franco, seu sucessor, pairando no ar enquanto não encontrou campo para encorpar-se e engolir a nação. Itamar, por não ser homem de tendência neoliberal, sempre foi muito pressionado por parte das forças políticas de direita e da mídia para que adotasse a quaquer preço uma conduta de privatizações (ocasionando lucros ou prejuízos ao Brasil), de indiferença aos salários e empregos, de desrespeito às coisas de caráter humano. Em outras palavras, a era Collor inaugura no país uma mentalidade de que as estatais significavam o gigantismo patológico do Estado, que era preciso proivatizar(1), privatizar(!) e privatizar(!), e os salários precisavam ser contidos para o bem das empresas e dos cofres públicos, ou seja, aos salários era preciso achatar(!), achatar(!) e achatar(!), e ainda aos trablhadores demitir(!), demitir(!) e demitir(!). Fernando Henrique é o continuador da maldita obra do xará, e consegue colocar em prática tudo o que o homônimo preparara para o país. Rasgou livros e idéias próprias, também a Constituição, abriu mão da credibilidade pessoal e, por conta disto, em contradição a tudo o que defendera durante quase toda a carreira política, fez um governo de reacionarismo cruel e canibalesco, o que agradou muito aos seus anjos da guarda, que eram os banqueiros e governos estrangeiros. Não deu a menor importância aos anseios e carências das camadas sociais da classes média a baixa, e a sua postura administrativa estava em pura consonância com o pensamento adotado (e na época tornado moda) pelas forças políticas e pela mídia, que sempre faz a prostituta investida do papel de porta-voz do poder econômico e do comando estabelecido.
A vinda do governo Lula deu vida a um fenômeno que, na falta de melhor expressão, podemos chamar flexibilização (terminologia que a desacreditada classe política gosta muito de usar para defender pontos de vista que não merecem crédito) dessa coisa de o remédio ser sempre cair para a direita e deixar danar-se o mundo. Começou-se a propalar, no governo e na imprensa, que essa história de privatização não é bem assim, porque é preciso critério e em muitos casos preservação do patrimônio público. E não é que, arrogante e antipático mas não bobo, o nosso "amado" José Serra, em sua campanha sem sucesso à presidência , acusou o PT de ser privatista, quase dizendo-se estatista e ardoroso defensor do bem nacional? Incrível, não?!
É bem verdade que a inclinação à esquerda que havia nos anos oitenta está sepultada. O PT sempre vendeu uma imagem de partido de esquerda, mas no poder deixou a gente ver que a coisa não é bem assim. Na verdade tem uma conduta conservadora, pois os banqueiros, benficiários de sua política econômica, o abençoam com justa profunda gratidão, e os trabalhadores, tripudiados e iludidos por bolsas disso e daquilo, têm o salário aviltado e não conseguem avançar um milímetro na sua condição material e na própria auto-estima. Os dois governos Lula foram na verdade um arremedo mal feito do governo Vargas, que também era assistencialista e conservador, mas permitiu à classe trabalhadora direitos trabalhistas importantes e ganhos salariais com melhor poder de compra do que os de hoje, enquanto o PT mantém os ganhos dos empregados em baixos níveis e ainda compactua com essa gente que quer suprimir as conquistas obtidas pelos trabalhadores na era Vargas, tornado-se assim (o PT) um governo e uma agremiação pré-getuliana, como pré-getulianos são os políticos de hoje, porque todos são pré-getulianos de tão perversos e retrógrados.
A aceitação ( e defesa), por parte das forças políticas atuais e das pessoas que formam opinião, à famigerada reforma trabalhista é uma prova incontestável de que as idéias neoliberais encontram prefeita acolhida dentro da opinião pública dos dias de hoje, porque o modismo desta vez aponta na direção de uma doutrina antagônica à predominante nos anos oitenta. E o pior de tudo é que uma grande parte do público aceitou o pensamento sem muito raciocinar, mas unicamente para seguir a favor da corrente e acompanhar o que é bonitinho dizer hoje, arrotando asneiras por aí afora enquanto pensa estar falando bonito e dizendo as coisas mais inteligentes do planeta.
Pode até alguém refutar o meu discurso, argumentando que o pensamento não pode ser pétreo, mas, que fique bem claro, quando se trata de questão social, não dá para se mudar radicalmente a opinião, porque pode fazer a diferença entre pessoas terem ou não emprego e algo para comer. E agora, cá para nós, pra quem quer sempre estar do lado que esteja ganhando, até o adesismo requer reflexão, não a aceitação pura e simples por conta do rumo dos ventos.

2010

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