quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

PREDESTINAÇÃO

Robert tinha a consciência de que era um predestinado.  Sobretudo porque era talentoso, e já na infância dera evidentes sinais de seu potencial, com sua inclinação e facilidade para lidar com os números e as ciências, sobretudo as biológicas.  Na adolescência, recebera inúmeros elogios dos seus professores de Biologia, o que alimentara os desejos dos pais e do próprio de que este abraçasse a Medicina.
Filho de família classe média com bom padrão financeiro, ao terminar o curso secundário, ingressou na faculdade para a carreira desejada, alcançando um dos primeiros lugares no vestibular.  Isto o fez ainda mais cônscio de que tinha brilho, e deu-lhe a certeza, também alimentada pelos pais, de que o talento nunca vem sozinho: traz sempre a reboque uma missão, uma predestinação, no caso dele a de salvar vidas, tornar-se renomado, envolver-se em pesquisas, descobrir curas, ajudar a humanidade tão carente de auxílio por conta de sua precariedade e ignorância.
-É um desígnio de Deus, uma missão divina. - diziam-lhe sempre os pais, adeptos do espiritismo de Allan Kardec - Todo mundo tem uma incumbência na Terra, ninguém nasce com talento à toa.  Deus é perfeito e nada é por acaso.  Por isto, não neglicencie nunca quanto à elevada tarefa que Ele te deu.
Tal consciência arraigou-se na mente de Robert, que tinha este nome pomposo apesar de brasileiro filho e neto de brasileiros, e este levou os estudos a sério, formulando inclusive planos de ajudar o próximo com alguns atendimentos gratuitos, sem deixar, é claro, de obter os frutos financeiros dercorrentes da profissão.  Ficava a imaginar seu consultório suntuoso,  a construção e crescimento de sua reputação, secretárias bonitas, a reverência dos clientes e a gratidão daqueles a quem atenderia gratuita e caritativamente.  Um futuro grandioso, definitivamente, o esperava.
Na universidade, mostrava-se um aluno do quilate das raras inteligências, na vida pessoal, era benquisto por todos e só tinha algum problema com o seu excessivo magnestismo, pois com frequência era forçado a dar verdadeiros dribles em uma ou outra namorada, já que, com eu já disse, o seu execessivo carisma não lhe permitia envolver-se com uma única moça. 
Quando o universitário já contava vinte e três anos e já se aproximava o tempo de concluir a faculdade, quando este ainda tinha ainda alguma dúvida sobre a especialização a fazer, foi encontrar uma das belas com quem mantinha relacionamento.
Era uma tarde bonita, meio de semana, e Robert postou-se no lugar onde o encontro fora marcado.  Acontece que um carro que vinha em alta velocidade perdeu a direção, subiu a calçada e atropelou Robert, que teve morte instantânea e nos deixou sem saber responder o que fora feito de sua predestinação, dos desígnios de Deus, de sua missão atrelada ao talento, da tarefa de curar e salvar vidas, de auxiliar humanos sofredores, e do futuro magnífico e elevado que sempre o aguardara.

2008        

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