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domingo, 29 de junho de 2025

CIRO GOMES É UMA CONSPIRAÇÃO DAS ELITES

 

Certa vez postei no "Bluesky" que o Ciro Gomes é de direita, e um cirista me rebateu dizendo que só não concordaria comigo porque "aí seríamos dois a falar merda" e que "Ciro está à esquerda" de Lula.  Nem me dei ao trabalho de discutir o mérito da questão, respondi apenas que o seu gosto pelo escatológico era impressionante e o bloqueei.  Se o próprio Lula, progressista, mas pressionado pelo Congresso, por fascistas, grande mídia e poder econômico, não consegue fazer um governo social-democrata como desejaria, que perfil teria o Ciro na Presidência?  Ciro começou a carreira  no PDS, partido da ditadura militar, elogiou em 1990 a política econômica do Collor, passou por vários partidos progressistas sem me convencer e hoje volta ao PSDB, partido criado após o fim do regime militar, que uniu a direita do PMDB aos temerosos de morrer politicamente do PDS.  "O bom filho à casa torna." 

Ciro tem três intentos ao migrar de volta ao lar: disputar a Presidência da República para, caso ganhe, governar à direita, tirar, se não eleito, votos de Lula em 2026 (já que ainda há quem acredite ser ele, Ciro, de esquerda) e aí se vingaria de o PT não tê-lo apoiado em 2018 contra Bolsonaro.  Ciro é parte de um conluio das elites para garantir a vitória da direita em 2026, seja através do próprio triunfo ou eleição de Tarcísio de Freitas, já que irá subtrair votos do atual presidente.  

Precisamos ficar atentos, porque os ataques do político cearense a Lula serão muito contundentes, e temos de começar a neutralizá-los desde já.  

Digo tudo isso sem ser, por incrível que pareça, lulista ou petista, pois na verdade minha simpatia é pelo PSOL; porém acontece que Lula é o único candidato da vertente popular com chances no ano que vem -- e todos sabemos muito bem o que é um governo de direita, como Temer, que se repetiria em Ciro, ou de extrema-direita, como Bolsonaro, que se reproduziria em Tarcísio.

As elites sempre conspiram e, por razões muito óbvias, têm muita facilidade em conseguir adesões.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

E AGORA? QUEM VAI TANGER O GADO?

 Bolsonaro não criou o bolsonarismo, que é apenas uma expressão do fascismo absolutamente igual às outras, como o nazismo, o franquismo, o integralismo e outros movimentos do mesmo gênero, não se excluindo desse rol de extremismos de direita o regime de Maduro, na Venezuela, Ortega, na Nicarágua, Orbán, na Hungria, Trump, nos Estados Unidos, e outros tiranos pelo mundo afora. Vai dizer que Ortega e Maduro são de esquerda? É mesmo?  Se não atendessem aos interesses dos ricos,  esses caras estariam há muito tempo alijados do poder e até presos.  Não nos esqueçamos de que os regimes fascistas têm o papel primordial de preservar as desigualdades e manter incólumes e sempre crescentes os privilégios e regalias das classes privilegiadas.

Voltando à questão de Bolsonaro, haverá por parte de seus adoradores decepção com a conduta deste no interrogatório no STF, em que brincou com Alexandre de Moraes ao perguntar se o ministro aceitaria ser seu vice, e irão abandoná-lo, vendo-o como um impostor, e cairão nos braços do Tarcísio de Freitas, enxergando nele o verdadeiro Bolsonaro?  Ou renegarão o governador, achando-o herdeiro e xerocópia do líder que tanto os terá decepcionado?  Ou limitar-se-ão a perdoá-lo e justificá-lo de algum modo, numa atitude maternal, coisa assim de mãe leonina e extremosa?

Não sei responder, a única certeza que tenho é que essa gente precisa de um líder totalitário para tangê-la, porque o totalitarismo, com sua misoginia, homofobia, racismo, conservadorismo sócio-econômico e de costumes, seu perfil opressor e sua crueldade e masmorras de tortura, é a sua (dessa gente) grande paixão.  São esses sectários fascinados por sofrimento, morte e sangue, tanto que o que os moveu a apoiar Bolsonaro foi, antes de qualquer coisa, o desejo de ver esquerdistas presos, torturados e mortos, como se fossem as esquerdas culpadas de suas frustrações e insucessos, não o sistema de desigualdades e o funil de oportunidades que grassa num Brasil do qual os ricos se apropriaram e fazem o que bem querem.  Esse é o cenário: o país é propriedade privada das classes privilegiadas, que a cada dia mais privilegiadas se tornam, em detrimento das camadas não-ungidas, dentre as quais estão as raias bolsonaristas à margem da abastança.  Os burgueses e os agentes que vivem de protegê-los não são gado, mas beneficiários diretos do autoritarismo.  Atendo-me novamente ao gado, esse precisa ser tangido, e a Globo e toda a grande mídia, além do Congresso com as bancadas da bala, da Bíblia e do agro, encarregaram-se de esmigalhar politicamente Lula, o PT e todas as forças progressistas.  Assim, não faltará direitista autoritário para tocar essa boiada: além de Tarcísio, há o Caiado, Ciro Nogueira, a Michele, quem sabe o Eduardo, Flávio ou até Carlos Bolsonaro.  A busca dessas pessoas por um milei, trump, orbán jamais será frustrada, e o fruto disso será o agravamento do infortúnio, dos percalços e do martírio de todos  os grupos não-inseridos nos pontos mais altos da pirâmide social.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

A FADA DA FAVELA

 Lembro qual fora agora:

luz amarela e fraca,

a deusa aberta em flor,

a rosa ardendo em chama

Num gueto do Brasil.


Seus olhos suplicantes,

tão cheios de pecado,

sussurros de luxúria,

as juras mais bonitas

na casa desbotada.


Ainda na memória

eu tenho os estampidos,

um samba mal cantado,

a nossa noite bela

e o medo após o amor.


Sumiu no mundo a linda,

a fada da favela.

Que coisas hoje vive?

Suplico que inda viva. 

Meu verso ela calou.




sábado, 3 de maio de 2025

DIREITA, UNIDA, JAMAIS SERÁ VENCIDA

 A notícia veio da "Revista Forum". Temer ( o "cardeal da política" cujo nome a Daniela Lima, da "Globo News", insistiu em omitir), segundo o jornalista que noticiou em primeira mão, "saiu de lá das catacumbas" e procurou os senhores feudais  da Faria Lima, donos de grandes empresas de mídia, militares, Alexandre de Moraes e alguns parlamentares de direita, e fechou um acordo: "deixar a Justiça cuidar de Bolsonaro" e concentrar todas as energias na  eleição de Tarcísio de Freitas; daí o "Estadão" dizer que o inelegível atrapalha o Brasil e ter surgido o projeto que substitui o PL da  absurda anistia clamada pelo Bozo -- projeto que prevê redução de pena para os que depredaram os prédios dos Três Poderes.  O STF e Xandão acolheram a ideia com gosto, o Congresso lambuzou-se de prazer, e o Governo não tem força política pra discordar.  Tudo certo: Bolsonaro e alguns líderes do 8 de janeiro serão presos, os vândalos terroristas terão penas reduzidas, e Tarcifascista de Freitas se torna presidente e implementa a desastrosa e crudelíssima política sócio-econômica de Milei.  Tá pronto o acordão, e foi difícil os jornalistas da "GNews" conterem os orgasmos múltiplos em confirmar a informação da "Forum".

Pessoal, já se sabe o final do seriado; não há mais motivo para perder tempo a acompanhá-lo.

A meu ver, entretanto, esse "final feliz" será ainda mais jubiloso do que se imagina.  Para entender é só lembrar que Collor foi agraciado por Paulo Gonet e Alexandre de Moraes com uma prisão domiciliar em sua cobertura de 600 m2, em frente à praia e numa área nobre de Maceió. Se Collor, 33 anos depois de expulso da Presidência da República, recebeu esse tratamento, imagine Bolsonaro, que ainda tem um prestígio incalculável e mais de 58 milhões de zumbis seguidores.  Os líderes ficarão "reclusos" dentro da extensão de suas cidades ou estados? O Jair ficará privado de sair de dentro das quatro linhas do plano e quadrado planeta Terra? Coitado...!

Nada como ter dinheiro num país que é fascista desde o dia em que os lusitanos puseram os pés cá nesta terra onde, "se plantando, tudo dá".

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O MUNDO VAI ACABAR? A CULPA É DO LULA!

 O agro exporta a maior parte do que produz, e o preço dos alimentos encarece demais; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! A comida tá cara; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! A  previsão é de pouca chuva neste ano, e a luz vai subir; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! Em São Paulo, chuva demais; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! A tua mulher te corneou? A culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! O marido espancou a mulher; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! Jesus foi crucificado; culpa do Lula: vota nonTarcísio! O Trump taxa importados; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! O crime organizado cresce a cada dia; a culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! Teu marido brochou na noite passada? A culpa é do Lula! Vota no Tarcísio! A programação da Netflix tá uma bosta? Culpa do Lula: vota no Tarcísio!  O caboclo não baixou no centro de macumba? Culpa do Lula: vota no Tarcísio! O milagre do pastor é fajuto? Culpa do Lula! Vota no Tarcísio!

Vota no Tarcísio, imbecil de carteirinha, reacionário sem embasamento político, anticomunista que nem sabe o que é comunismo, estúpido inato de pai e mãe!  Vota no Tarcísio e verá que  SUS, saúde pública, democracia e democracia vai tudo pro espaço! Vota no Tarcísio e vê uma nova reforma da previdência fazer todo mundo trabalhar até morrer, os salários serem esmigalhados e os eventuais protestos, reprimidos com muita porrada!  Vota no Tarcísio e, dependendo da tua idade, nunca mais verá a democracia de volta, antidemocrata sem noção da importância da democracia, verme idiota que, se vivesse um bilhão de anos, jamais aprenderia o que é Estado Democrático de Direito e liberdade, sobretudo porque um paralítico intelectual da tua espécie não merece nada diverso do que tudo que o Tarcísio vai te trazer  e a nós, progressistas democratas, por meio da mais absoluta injustiça autoritária.

sábado, 12 de abril de 2025

BOLSONARO VAI AO PAI-DE-SANTO

 É claro que isto é uma história de humor (ou ao menos tentativa de humor) absolutamente imaginária, sem nenhuma relação com fatos reais, mas, como imaginar não paga imposto, não vi por que não criá-la.



Apertam a camapainha do terreiro do Pai Bodão das Incruza, e esse manda um cambono atender,  e logo adentra o Bolsonaro.

--Ê-ê! Hm-hm! Ê-ê! Hm-hm! Que carga pesada é essa,  Meu Pai?! Valei-me, Meu Pai Eterno! --  ficou a estrebuchar longamente o pai-de-santo.  Quando recuperou-se, voltou-se ao ex-presidente:

--Zifio tá muito zipesado, lotado de coisa ruim no costado!  Um montão de espírito mau vindo lá do fundo dos pior inferno, tudo garrado em sucê...

--È tudo troço ruim mandado por esses comunistas que me odeiam, não é?

--Não, zifio!  Tá tudo querendo aprender maldade com sucê.  Perto de sucê, eles é tudo seminarista...Ê-ê! Pai Bodão chega a tá tonto.  Ezequias! -- grita para o cambono -- Traz um escudo de aço pra eu poder zifalar com esse zifio!

Ezequias traz o escudo, Pai Bodão manda o político falar pelo celular.

--Me disculpe, mas sucê é carga negativa pura.  O escudo pode zitrapaiá nós de se ouvir: então pelo celular dá pra conversar bem.

Bolsonaro acomodou-se na cadeira e se lamentou:

--Tô sofrendo pra caralho.  O senhor não imagina...

--Mas Malafaia não fez milagre pra sucê?  Ele não tem procuração de Deus, não  é representante de Deus aqui na Terra?   Não conseguiu fazer mandinga boa pra melhorar zifio?  E rabo-de-saia de zifio, que também é macumbeira crente e recebe até o Espírito Santo?  Zifio, responde pra mim:  ela tava fingindo ou é doida?  Que porra de zilíngua é aquela que ela falou quando achou que recebeu Deus, no dia  que André Mendonça virou home de capa?

O ex-presidente voltou a queixar-se:

--Aqueles malditos lá do STF tão querendo me julgar.  Dá pra fazer uma macumba pra matar nove deles?  Dá pra fazer uma macumba pra matar todos aqueles que não gostam de mim?

--Zifio tá falando de de mais de sessenta milhão de pessoa?  --  E seguiu o pai-de-santo:--Disculpa, fio, mas tô vendo aqui que a alma de fio vai ter de receber uns pedaço de alma sobressalentes...

--Mas por quê, pai?

--Pru que ela já tá toda manchada de preto e as mancha tá sobrando: não tem mais espaço na alma pra tanta mancha.

--O senhor acha que as coisas podem melhorar pra mim?

--Zifio falou tanto em morrer, mas acho que zifio num vai morrer nunca. Num sei como vai ser.

--Mas por que isso?

--Pro Céu zifio num vai.  No Inferno o tinhoso num quer sucê pra ficar infernizando a vida dele. 

--Mas Pai Bodão -- atalhou o ex-presidente -- eu queria que o senhor fosse mais objetivo e dissesse se pode me ajudar.

--Pai Bodão pode, zifio, mas antes quero voltar a falar da alma de sucê.

--O quê?

--Zifio já pensou em jogar cal no corpo todo?

Bolsonaro arregala os olhos:

--Cal???? Mas cal ia queimar meu corpo  e me matar...

--Mas quem sabe a brancura da cal passa pra alma, e São Pedro se engana, e fio acaba entrando no Céu?

--Esquece a alma, pai -- o político começa a ficar impaciente -- e diz o que o senhor pode fazer pra eu não ser preso e voltar a ficar elegível.

--Zifio tem muito pecado.  Mais de trezentos mil morto a mais pela peste pruque  sucê demorou a vacinar e num queria vacinar de jeito nium.  Zifio tem pecado demais, fez muita coisa que deixa até o capeta de boca aberta, mas pai vai ajudar zifio.  Lembra quando sucê disse chegou à Presidença por uma cagada?

--Lembro, claro.

--Pois é: fio então vai tomar chá de solta-bosta por sete dias dias pra vê se dá outra cagada de sorte.  Depois zifio vai lavar bem zibunda e  virar zibunda pra Lua, pra ver se tem ainda mais sorte.

--Vou conseguir não ser preso?

--Aí pra reforçar cê toma sete chá de asa de mosquito por sete dias porque asa é liberdade e vai fazer efeito em sucê.

Bolsonaro anuiu com a cabeça, o pai-de-santo seguiu:

--Pai Bodão ia também receitar um chá de pena de asa de anjo pra fio ficar um pouco bãozinho, mas num ia diantar, porque é mais fácil um gambá latir do que zifio ser um pouquinho bão.  E, por favor, vai embora logo, zifio, antes que essas praga que zifio tem no costado comam Pai Bodão vivo. 

sábado, 29 de março de 2025

A TRISTEZA E A ALEGRIA

 A tristeza é prisão, é calabouço, é clausura, é escuridão no estreito túnel, é como amarras, é lassidão.

A alegria é claridade, é liberdade, é voar,  braços abertos para o mundo, e o regalo de sentir no rosto e peito a brisa fresca,  colorida e musical. 

UNICIDADE COM A NATUREZA

 Amo a Natureza e com ela me sinto uno como se nas plantas tocasse as pontas dos dedos e nas plantas sentisse os elementos corporais que tenho em mim, assim como se apalpasse a mim mesmo. Amo os animais como se fora deles uma simples extensão.  Eu, animais, vegetais, um corpo único, uma só alma numa harmonia e comunhão absoluta.

Não sou, porém, uno com os homens que  destroem, que incendeiam e que matam plantas, bichos, porque esses satanases abomináveis se comprazem de um modo incompreensível em matar, queimar e destruir.  Sou feito da mesma matéria daqueles que respeitam a vida.  Dos bestiais destruidores me recuso teimosamente a ser irmão.

LAMBARI, UMA TELA DE CINEMA

 Se um dia eu voltar a Lambari, sentirei fundamente a ausência daqueles que em minha juventude comigo para lá viajavam  do Rio de Janeiro e, como alguns que ali moravam, já não vivem mais.  Sua lembrança irá me ferir sob a forma de tristeza e nostalgia, e essa tristeza será como um fantasma ubíquo a me surgir nos cantos todos do solar e nos umbrais que irei atravessar.  A casa aos meus olhos será lúgubre e sombria, com a umidade, o mofo e o escuro das masmorras e dos casarões abandonados.

Encontrarei toda a cidade transfigurada totalmente, sem a poesia que outrora me acolhia, e, entre as pessoas, não haverá ninguém que eu haja conhecido. Perceberei, então, que os laços que me uniram à cidade se terão evaporado como o éter a se desintegrar no ar.  Porque não será a Lambari que conheci e que tinha alguma inocência e um charmoso romantismo.  

Contemplarei as ruas sem encontrar entre nós nenhuma identidade, e caminharei a esmo não como estando por ali, mas qual alguém que anda a olhar uma tela de cinema, sem no cenário poder entrar jamais

quinta-feira, 27 de março de 2025

A CIDADE

 Vou-me embora pr'um lugar belo e distante

Que me inspire redondilhas, madrigais,

Onde as matas, veneradas como deusas,

Sejam templos majestosos, divinais.


Vou-me embora pr'um lugar onde os bichinhos,

Muito amados como os anjos que bem são,

Não vagueiem pelas ruas e sarjetas,

Vivam qual num merecido paraíso.


Vou-me embora pr'um lugar sem mendicância,

Onde a fome nem sequer tente chegar;

Onde amantes sejam livres das ganâncias

E não queiram mais que afeto e que se dar.


Onde brinquem, felizes as crianças, 

Onde, soltos, me cantem rouxinóis;

De onde fique tão longínqua a hipocrisia,

Que não saiba lá chegar de modo algum.


Se o lugar não existir aqui na terra,

Vou a Marte ou Vênus para achá-lo.

Se, inda assim, não encontrar essa cidade,

Vou erguê-la em minha mente pra morar.

sábado, 22 de março de 2025

NUNCA MAIS


Você se lembra de quando nos entrelaçávamos as mãos, em cujas palmas ficávamos a sentir pulsar os nossos corações?  Tem a lembrança de que olhávamos a rua da janela e o mundo parecia constantemente dançar, numa festa contagiante e interminável?  

Tem na memória nossas salivas em nossas bocas, em nossos corpos já misturadas e os nossos líquidos, nossos odores e nossos fluxos amalgamados, sem que sequer conta nos déssemos de quais os cheiros e quais os fluidos eram os seus ou eram meus?  Você notava que na verdade  éramos um,  dois seres unos com  um só gosto, único aroma, uma só alma até talvez?

Hoje de você mais nada sei.  Teria à rudeza dos dias se entregado e se tornado bruta, cinzenta e incolor como o íntimo  da maioria dos humanos?  Terá se dado  inteiramente às ganâncias e mesquinhezes de um mundo cru, atroz  e pérfido, onde as emoções e a poesia não têm vez nem cabimento de modo algum?  Ou viverá um outro amor assim como aquele todo  feito de ternura, ardores,  lira e de entrega  de nós dois?

O que é de você nada mais sei e, pressuponho, não irei saber jamais.  A certeza que tenho  é somente a ríspida certeza do nunca mais.


quinta-feira, 20 de março de 2025

A ASSUSTADORA E REPULSIVA PROFUSÃO DE DIREITISTAS

 O bolsonarismo e o trumpismo, sinônimos de fascismo, decorrem, assim como na ideologia de centro-direita, de crueldade e maucaratismo nas camadas socialmente mais altas e, nas mais baixas, de tudo isso junto e somado à burrice e ignorância mais absoluta.  

A quantidade de direitistas nos EUA já está banalizada por sua própria tradição histórica, porque o cruel neoliberalismo está arraigado ao perfil da gritante maioria daquele povo ensinado a abominar a mais tímida modalidade de distribuição de renda desde a mais remota infância... mas no Brasil, por ser o país onde vivo, me indigna, causa repulsa e assusta.  Parece que nós, progressistas, coexistimos com uma profusão de demônios fétidos vindos dos mais imundos esgotos, todos ávidos de tirania, de caos social e de sangue, sonhando sádica e ardorosamente com o ressurgimento dos porões da ditadura com as mais lancinantes torturas e os gritos mais pejados de sofrimento e agonia que só a mais pavorosa perversidade pode produzir.


segunda-feira, 17 de março de 2025

.

Hoje a grandiosa, linda, magnífica, brilhante e talentosa Elis Regina faria 80 anos.
Quanta saudade!

17 de março de 2025



 

sábado, 8 de março de 2025

NAS ANDANÇAS DO PODER: SEXTA PARTE: "A REUNIÃO"

 O deputado Breno Tomasini acordou com a insistência  toque do celular, esfregou aas mãos nos olhos,  olhou o identificador do aparelho e apressou-se em atender:

--Fala Marcondes! Como é que tão as coisas?

Do outro lado, num tom arrogante, o outro, um chefe miliciano de peso, devolveu:

--Você é quem deve saber.  Há dias que tá circulando na imprensa essa história de união das polícias no combate às organizações.  O que é que vai acontecer? Vamos acabar todos trancafiados?

--Calma, amigo!  Você viu que tem um bocado de gente contra:  governadores, congressistas, porque isso vai encher muito a bola do governo federal, e a última coisa que a gente quer é esse cara que tá aí reeleito... ou qualquer um de fora da direita, claro! Eu, de minha parte, vou fazer muito lobby contrário na Câmara.  

--Eu também vi isso no noticiário, mas esperei uma informação tua.  Essa sacanagem não pode passar.

--Passar!!!??? - gargalhou Bruno -- Pode crer que isso não vai ser nem votado!  Não vai sequer ser enviado a nenhuma comissão.

-- Um descalabro isso!!!! Afinal de contas, nós somos poder com grande capacidade de ação e importância, e temos de quer ser respeitados como tal.

--Lógico, amigo!  O governo não tem força no Congresso pra atingir a gente.

-- Isso é verdade...

--Agora tem uma coisa! -- o deputado agora fala de um modo mais austero -- Tenho pensado muito e visto que o momento é de diálogo.  Diálogo e união.  Tem que haver pelo menos uma trégua com o tráfico.

O miliciano fica em silêncio por alguns momentos e a seguir concorda:

--Já tem alguns grupos  nossos conversando com os caras. Não são todos, mas  acho que isso é válido, é construtivo...

--Inclusive amplia o leque de opções da organização...

--Pois é, pois é! Em alguns casos isso tem acontecido.  Tenho conversado com o Rogério, que fazia a segurança do Adriano Ferraz, que não se reelegeu e agora deixou ele fora do serviço público, mas o cara é ruim de conversa demais...

--Para de falar com ele, ora! Marcondes, passa a falar agora com o Edvaldo, que é o chefe dele  e é mais fácil de negociar.  O Rogério é cabeça-dura: nem sei por que o Edvaldo confia tanto nele: vai acabar se metendo numa fria por causa da incapacidade do outro.

--Boa ideia, Bruno!

--Olha, Marcondes!   O Edvaldo também é carne-de-pescoço.  É radical, meio teimoso, mas tem uma pessoa que tem que mediar a conversa entre vocês.

--Quem? -- quis saber Marcondes.

--O Mateus, o pastor, porque tem muito prestígio com o Edvaldo, já que a igreja dele deixa a grana do sujeito limpinha...  Tem um puta trânsito com ele!

--Isso é muito bom, parceiro.  Vou dar até um pulinho na igreja daqui a pouco. vou ter uma conversa com ele.  Como eu já disse, não tenho preconceito.  Se tem que negociar com os caras, a gente negocia.  Se alguns companheiros de outras áreas já fizeram acordo, por que meu grupo não?

--Isso aí, Marcondes!

 --O importante é a gente permanecer fortes.

E a reunião se deu uma semana depois, num clube que as partes fecharam exclusivamente para ela,  num cenário cheio de seguranças armados de ambos os lados, com a presença do pastor e de alguns líderes do tráfico e da milícia.  Rogério tentou fazer algumas objeções, mas Edvaldo não lhe deu ouvidos. 

--Essa união já acontece em algumas regiões, não todas, mas em algumas, mas eu acho que no momento é o melhor.

--A proposta do governo federal -- observou Marcondes -- pode nos deixar meio em xeque...

--Não! -- atalhou Edvaldo --  "Nós tem" parceiro em tudo que é canto, e acho difícil uma coisa dessa ir pra frente.  "Nós tem" que se unir é pra ficar mais forte, não por causa disso.

--Mas tem uma putada na política -- insistiu o miliciano -- que é osso duro de roer: é essa esquerda filha da puta!  Eles são capazes de fazer uma ´pressão fodida...

--Cá pra nós, "cumpádi".  Tu sabe que essa esquerda tá sem força nenhuma, tem pouca gente dela na política no geral e não é ameaça pra ninguém.

--Olhando por aí você tem razão -- aceitou o chefe da milícia.

Edvaldo ergueu e levantou a mão direita:

--"Nós sela" aqui um acordo de cooperação e lealdade, e ninguém invade o território de ninguém, e trabalhamos juntos ali, ombro a ombro, todos pelo bem-estar de todos.

Várias mãos se juntaram naquele gesto simbólico, e o pastor Mateus postou  a sua sobre elas e vociferou:

--Com a bênção de Jesus Cristo, nosso Senhor!

--Amém!!! -- secundaram as outras vozes.


domingo, 23 de fevereiro de 2025

A MÚSICA E A RUA

 A rua, essa gente

que segue, que passa

pr'um lado, outro lado,

meus fones de ouvido: 

que música linda!


A gente, esse tráfego,

os carros, o asfalto, 

as motos ruidosas

quebrando a canção

tão doce de ouvir.


Alguém que pragueja

o que nem imagino;

mas nem me interesso:

que notas sublimes!

Nasceram no Céu?


A gente passando,

os carros parando

diante dos olhos

cansados de carros,

cansados de gente.


As cores mais várias,

pessoas aos montes,

sorrisos, conversas...

Cantiga tão linda

que quase chorei.


domingo, 16 de fevereiro de 2025

DIAS GOMES, O TITÃ DA CRIAÇÃO

 Um  homem, tentando pagar uma promessa (pela sobrevivência de seu burro a uma hemorragia), carrega uma cruz com o fito de colocá-la no altar de uma igreja, empreitada na qual não conta com o consentimento do padre da paróquia, e isso gera publicidade à sua história, fazendo que a imprensa, ávida de matérias e de sensacionalismo, o entreviste e, por seu relato de ter doado parte de suas terras a outros lavradores, sem arrependimento,   declare-o favorável à reforma agrária, ao mesmo tempo em que um gigolô e ex-policial com alcunha de Bonitão (Sill Farney), interessado em sua mulher(Glória Menezes), "delata-o" aos ex-colegas da polícia como comunista arrastando o  objeto como forma de protesto.   Zé do Burro (Leonardo Villar), o protagonista de "O Pagador de Promessa", peça anedótica  de  profunda dramaticidade de Dias Gomes, sofre gravíssimas consequências decorrentes da calúnia do gigolô e da mídia despudorada.

Outro grande momento da genial obra do autor é "O Bem-Amado", em que Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), um político sem caráter nem projeto da imaginária  cidade de Sucupira, na Bahia,  candidata-se a prefeito, prometendo aos habitantes do município um cemitério próprio (já que enterravam seus mortos na cidade vizinha, em longas caminhadas com seus defuntos na rede).  Vencendo a eleição, constrói o sepulcrário, mas começa a partir daí a sofrer um imenso  desgaste por ter gasto uma verba significativa numa construção que mostrou-se inútil, porque não conseguia inaugurar o cemitério de modo algum, já que ninguém morria após a conclusão da obra.

Numa outra diferente ocasião da vasta e genial criação de Dias Gomes, um novo drama anedótico conta a história de "Roque Santeiro", personagem-título de uma telenovela (José Wilker),  um jovem que confeccionava estátuas de santos e, num certa oportunidade de periculosidade  em Asa Branca, também cidade fictícia da Bahia, uma quadrilha domina e ameaça a cidade, e Roque, ao fazer-se portador do resgate que Sinhozinho Malta (Lima Duarte), pecuarista e chefe político da região,  pagaria a Navalhada (Osvaldo Loureiro) e seus comparsas, acaba por cair em tentação e se apropria do dinheiro e mais, leva consigo também o ostensório da igreja e foge.  Um corpo encontrado na beira de um rio é identificado equivocadamente como o cadáver de Roque, que acharam que teria enfrentado o bando até ser assassinado, e posteriormente virado santo, operando uma infinidade de milagres.

A partir daí, a cidade passa a desenvolver-se, com a implantação de comércio, indústria, hospedagens, boate e outros elementos de progresso, por conta da frequente ida de romarias e fiéis a Asa Branca para pagamento de promessas e louvores ao suposto santo.  O município passou a ter a sua economia quase totalmente sustentada pelo turismo e pela fé das pessoas no mito.

Tudo ficaria na mais perfeita paz se um dia Roque não resolvesse voltar à cidade para se redimir dos seus erros.  É quando tudo se complica, porque revelar a verdade a Asa Branca a faria desmoronar, porque significaria o fim da ocorrência de romeiros, da venda e fabricação de velas e artigos religiosos, do comércio, da indústria e de toda a atividade econômica naquela terra, com consequente falta de investimento, recessão, desemprego e miséria.

Em todas as três comédias dramáticas está o brilhantismo de Dias Gomes, que em seu mais grandioso talento sabia usar realismo e surrealismo, humor e tragédia, com personagens intrinsecamente ligados à realidade brasileira, como Sinhozinho Malta, tão bem-interpretado por Lima Duarte, que fazia que em certas horas eu sentisse raiva e desprezo pelo latifundiário para logo depois me cutucar e lembrar de que era só a interpretação primorosa de Lima Duarte.  A referência ao ator, aliás, é bastante oportuna, porque Lima como Wilker, Gracindo, Cláudio Cavalcante e outros pareciam incorporar com absoluto perfeccionismo os seus papéis por extremo respeito, dedicação e uma quase veneração ao trabalho esplêndido e magistral de Dias Gomes.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

SUBLIMAÇÃO: DEVANEIO?

 Deixar a paz entrar por cada poro assim como uma água sacrossanta que sublima, enleva e eleva doce e plenamente um ser humano.  Sentir o amor tocar a alma fundamente e fazê-la tão repleta desse amor que ele se emane por todo o derredor como fachos de luz branca a se expandir.  Sentir  a harmonia e irradiá-la pelo cosmo, numa purificação absoluta.

Amar numa entrega plena e cheia de delicadeza.  Amar e buscar alguma coisa transcendente para, então unidos, espalharmos benesses sobre as amadas criaturas.  Cultivar os meus desejos mais benevolentes como quem cultiva flores nos jardins.  Contatar intimamente o metafísico e sentir-me e saber-me parte dele, sem limite que nos possa separar.

Notar que a música e a sagrada natureza, a arte e os olhos angelicais dos animais, também sagrados,  como toda, toda forma de alumbramento e poesia, nos conduz numa viagem magnífica à intimidade, à harmonia e à unicidade com tudo aquilo que vivemos a chamar de transcendentes.

Ou seremos nós mesmos, quando despojados da maldade e alumbrados, a própria transcendência que pensamos ser exterior?


UMA QUASE-PRECE UTÓPICA

 Não seja, não, o tempo  hoje o prenúncio de uma era de ódios predominantes e de embates, de martírio e de profusões de carnificinas.  Não seja, não, ainda que o sobrenatural se faça existente e que venha interceder.  Não fique, não, o mundo nas mãos  de bestas medonhas, com corpos mutilados e ensanguentados em campos de batalha e os calabouços e infernais porões cheirando a mofo, a sangue e a fluidos putrefatos das torturas lancinantes entre os gritos assombrosos e impregnados das dores tenebrosas que é impossível descrever.

Que venham os dias de paz e calmaria, e os mais fortes permitam aos mais fracos o sossego e a harmonia a que todo ser tem o direito mais sagrado.

Que a justiça se sobreponha à vil ganância e acima de tudo paire a paz e a compaixão.  Que os povos todos se tornem livres, soberanos, e as sociedades vivam de mãos dadas, no arrefecimento das tão cruéis desigualdades.

Que viver seja leve, doce para toda criatura, para todo e qualquer ser.


 Existirão forças racionais no Universo a quem nós, humanos, possamos rogar e nos amparar?  Serão, se existentes tais forças, sensíveis aos nossos clamores ou absolutamente indiferentes a nossos dramas e anseios?   Ou seremos nós mesmos a fonte de poderes grandes ou pequenos que atribuímos a outras entidades?   Ou não há em nós e no cosmo nada além do que os óbvios cinco sentidos captam?  Se somos o que há de energia mental que pode porventura mudar ou direcionar fatos unicamente com o poder do pensamento,  o que ocorrerá depois de nossa morte?  A consciência sobrevivendo à morte do corpo ou o puro e simples fim de tudo, um mergulho profundo no mais completo nada?

Não sou resposta, sou apenas a manifestação das dúvidas inquietantes e aflitivas dos humanos diante do desconhecido.

domingo, 26 de janeiro de 2025

CHUVA BRANDA

 Hoje choveu, mas não a chuva devastadora e cheia de devastações e temporais.  Hoje choveu, e as águas, brandas, arrefeceram o calor abrasador e a agonia do meu espírito lotado de apreensões e indignações as mais diversas.

Hoje choveu, e o fogo ateado nas matas não pôde prosperar ante a frustração desolada dos incendiários criminosos, demoníacos e ignóbeis como a mais chã das criaturas não consegue ser.  Não há verme repulsivo como um homem que incinera flores, árvores, insetos, frutas e puros e inocentes animais.

Hoje choveu, e o cheiro da terra molhada adentrou as narinas como um perfume divinal.  Foi como uma trégua numa guerra sangrenta e lancinante.  Hoje choveu, e minha alma se fez serena e suave,  e fresca, e leve, e amena e doce como a paz.

domingo, 5 de janeiro de 2025

SAIBA O QUE SÃO OS NOCIVOS "MERCADOS" QUE A GLOBO E GRANDE MÍDIA TANTO VENERAM

Primeiro voltemos a 1989 e lembremos que a campanha  eleitoral do Collor não foi somente contra os servidores públicos, mas também contra os especuladores do sistema financeiro, esses mesmos "mercados" que os globais mencionam com fala emproada e mão no peito, como se rendessem reverências a um deus, um rei ou general.  Na época o candidato referia-se a essa gente com frases como "eu vou acabar com esses vagabundos".  E como vagabundos é que essa gente hoje tão venerada era vista naquela época.

São banqueiros que emprestam dinheiro a juros estratosféricos, jogadores da Bolsa de Valores,  compradores de títulos do Governo,  especuladores do dólar, malandros que operam com câmbio e com mais outras mamatas.  Todos esses espertalhões têm um ponto em comum: NÃO PRODUZEM NEM UM PALITO E NÃO GERAM UM ÚNICO EMPREGO.  Nem de um secretário para fazer aplicações eles precisam, porque já há os operadores da Bolsa e essas empresas de operações monetárias  para fazê-lo.  Poderia até um idiota dizer que, se existem essas citadas empresas e operadores, é porque os ociosos financistas dão vida a postos de trabalho, mas eu destacaria que tais ocupações são numericamente insignificantes e de uma importância nula no contexto social, porque os sanguessugas concentram nos bolsos todos os lucros obtidos com seus negócios e essa verba represada agrava a concentração de renda, além de nunca ser utilizada na implantação de indústrias, de comércio e de qualquer atividade que venha a gerar mais vagas de emprego e consequente desenvolvimento do país como um todo.  Daí eu afirmar categoricamente que são parasitas e nocivos, pois nada produzem e ainda estagnam e atrofiam o setor produtivo nacional.

Quando a Eliane Cantanhêde, da Globo News,  diz que o mercado especulativo tem também o seu João e a dona Maria, que têm um dinheirinho guardado e nele aplicam, mente deslavadamente, porque seu João e dona Maria não gostam de correr riscos numa seara que não conhecem e preferem deixar a grana guardada numa poupança ou investir na compra de um imóvel, que é seguro, em geral não desvaloriza e até pode render uma receita de aluguel.  Um outro âncora que defende o segmento indolente com um furor leonino seria, como amplamente divulgado nas redes sociais, casado com uma sócia de uma intituição de investimentos em capital.

O mercado financeiro adquire superpoderes em decorrência do próprio capitalismo financeiro, surgido no século XX em escala mundial, e é lógico que é impossível contê-lo.  Entretanto não há nenhum motivo para que ao mencioná-lo achemos que estamos falando de Deus.  E esse mercado de finanças mostra-se ainda mais pernicioso quando, como no caso do Brasil, procura imiscuir-se na política partidária e destruir ou erguer líderes políticos, e exemplo disso é essa obstinação desses megadesocupados em destruir o governo Lula para trazer de volta ao Planalto alguém de perfil direitista bem sólido, não se importando se tratar-se-á de alguém de direita ou extrema-direita.  Não importa pra eles quantos morram sob fome ou tortura: o que tem relevância é o aumento dos seus lucros.  Isso me parece um precedente de altíssima periculosidade,  pois a gande mídia é uma espécie de secretária e porta-voz desse setor improdutivo da economia e pode, da mesma forma como a Globo  ataca ostensiva e sistematicamente o governo Lula, passar à opinião pública os recados subliminares dessas elites à população, e já em 2026 esvaziar ainda mais o Legislativo de parlamentares progressitas.

Todos sabemos que o golpe militar de 1964 no Brasil foi, como todos os golpes militares da América Latina, uma demanda das classes privilegiadas -- que se urinavam de medo de perder parte de suas regalias -- de pronto atendida por John Kennedy, que optou, por sugestão da Cia, a apoiar e incentivar as ditaduras ao invés de prestar apoio sócio-econômico às nações do continente, que vislumbravam alguns acenos das esferas comunistas.   O golpe que se pretende, desta vez, é inteiramente midiático, sem necessidade de violência ou intervenção militar.   Aponta-se apenas o que quer o mercado financeiro: juros mais altos, títulos da dívida pública com valorização imensa e galopante, pouco investimento do governo, menos consumo e menos emprego -- ou não foi o próprio Campos Netto, ex-presidente do BC, que disse que o pleno emprego pode acarretar  inflacão por poder valorizar os salários?...  Pois é: o mercado financeiro dá os ditames e os órgãos de imprensa separam o joio do trigo, apontando em seus noticiários de rádio, televisão, internet e impressos quais os candidatos às prefeituras, governos estaduais, federal e  parlamentos  são dissonantes quanto ao que estabelecem essa gente dos setores que só especulam.

Acho que ficar tentando combater o sistema financeiro é quixotesco, mas é papel dos políticos honrados e dos cidadãos esclarecidos e igualmente dignos esclarecer à parcela da população menos informada o que são os tais "mercados" e tudo o oque eles pretendem,  e que não há nenhuma sacrilégio, mas aboluto acerto em contrariar os desígnios desses caras que não querem nada além de multiplicar suas fortunas em detrimento de quase totalidade da sociedade.